SOLA SCRIPTURA | SOMENTE A BÍBLIA



 A ESCRITURA CONTRA A TRADIÇÃO O LIBERALISMO

@pJota Moura Rocha

Começamos observando a situação teológica enfrentada pelos reformadores, no século 16: a teologia católica medieval, em oposição à qual foi desenvolvida a teologia reformada. Sempre que for relevante, serão citadas decisões do Concílio de Trento, para mostrar, com evidência documental, qual era a posição da teologia romana quando a teologia reformada começou a se desenvolver. Também será recorrente o uso da Confissão de Fé de Westminster (CFW), por ser esta uma obra-prima da teologia reformada. Deve-se observar, porém, que houve mudanças na teologia romana, especialmente depois do Concílio Vaticano II, quando a Igreja Católica Romana passou a adotar uma postura menos tradicional e mais ecumênica. Adotamos uma abordagem atual, mostrando os desvios teológicos existentes hoje (especialmente entre os evangélicos) os quais seriam evitados, caso nos apegássemos com mais vigor à herança da Reforma Protestante. Os reformadores do século XVI, foram unânimes na apresentação do fundamento sobre o qual sua teologia seria elaborada: Sola Scriptura (Somente a Escritura - 2Tm 3.14-17).

1. O PAPA NÃO É INFALÍVEL

De acordo com a teologia católica romana, o papa é o grande líder da igreja e atua como vigário (isto é, substituto) de Cristo na terra. Para atuar como substituto de Cristo, o líder máximo da igreja precisa possuir infalibilidade, pois se Cristo não erra, seu substituto também não pode errar. A teologia romana definiu essa infalibilidade do papa, em linhas gerais, afirmando que, quando o papa fala ex cathedra, isto é, quando trata de assuntos doutrinários, em virtude do auxílio que recebe de Deus, é infalível.

Os escritores bíblicos foram preservados do erro na composição de seus escritos, porque foram inspirados pelo Espírito Santo. A infalibilidade papal não é assim. De acordo com a teologia católica romana, o papa é infalível não por inspiração, isto é, não pela mesma obra do Espírito Santo, por meio da qual os escritores bíblicos foram preservados do erro.

Na Dogmática Reformada, o teólogo Herman Bavinck afirma: “Os teólogos católicos romanos se encarregaram de desenvolver em detalhes as áreas cobertas por essa infalibilidade. Segundo eles, o papa é infalível quando trata das verdades da revelação na Escritura, das verdades das instituições divinas, dos sacramentos, da igreja, de sua organização e governo e das verdades da revelação natural. No entanto, até mesmo com isso estamos longe de esgotar o alcance da infalibilidade papal. Para que o papa seja infalível em todas essas áreas, dizem os teólogos, ele também tem de ser infalível na avaliação das fontes das verdades da fé e na interpretação delas. Isso significa dizer que ele é infalível no estabelecimento da autoridade da Escritura, da tradição, dos concílios, dos papas, dos pais da igreja, dos teólogos; no uso e na aplicação de verdades naturais, imagens, conceitos e expressões; na avaliação e rejeição de erros e heresias, até mesmo no estabelecimento de fatos dogmáticos. Na proibição de livros, em questões de disciplina, no endosso de ordens, na canonização de santos e assim por diante. Fé e moral abrangem quase tudo, e tudo o que o papa diz sobre isso seria, então, infalível. O termo ex cathedra, de fato, não traça nenhum limite em nenhum lugar”.

Os reformadores foram unânimes em repudiar completamente essa doutrina por não encontrarem, na Escritura Sagrada, nem uma só palavra que a sustente. Em oposição a ela, afirmaram vigorosamente: Sola Scriptura | Somente a Bíblia.

2. A TRADIÇÃO NÃO É FONTE DE AUTORIDADE

Outra fonte de autoridade espiritual muito forte na teologia católica medieval (e ainda hoje) é a tradição. Deve ser dito que a tradição nunca foi rejeitada pelo simples fato de ser tradição. Na própria Escritura Sagrada encontramos ênfase e crítica à tradição (Mt 15.2,3,6; Mc 7.3,5,8,9,13; 2Ts 2.15). A questão básica é: a que tradição estamos nos referindo? A tradição é rejeitada todas as vezes que entra em choque com a Palavra de Deus. A Reforma revoltou-se quanto à suposta autoridade da tradição independente da Escritura Sagrada e pretensamente nivelada com ela. Os reformadores sustentavam que a Escritura Sagrada é a única autoridade infalível dentro da igreja. Deste modo, a autoridade dos Credos (Apostólico, Nicéia, Calcedônia) era indiscutivelmente considerada pelos reformadores, contudo, somente as Escrituras Sagradas são incondicionalmente autoritativas em matéria de fé e prática cristã.

3. A IGREJA NÃO CRIOU A REVELAÇÃO

Outra expressão moderna desse ensino católico medieval é a crença de que a denominação religiosa a que pertencemos, está sempre certa. Isso é um erro. Nenhuma denominação religiosa está isenta de erros neste mundo. Os concílios são compostos por pessoas e, por melhores que sejam as intenções dessas pessoas, por mais sólido que seja seu conhecimento teológico, elas continuam sendo sujeitas ao erro. Nossos concílios e denominações são falíveis.

É claro que quanto maior for o apego dos líderes às doutrinas cristãs, quanto maior for o vigor de sua piedade cristã e quanto maior for sua capacidade de aplicar o ensinamento bíblico às circunstâncias da vida, mais nítida é a possibilidade de que tomem decisões sábias e governem bem a igreja de Cristo. Mas é importante termos sempre em mente que não há denominações cristãs perfeitas. Isso é necessário não apenas para exercitar nossa humildade e despertar o interesse pelo estudo rigoroso da Escritura Sagrada, mas também para nos permitir uma comunhão cristã mais saudável, com irmãos de outras denominações cristãs. Embora existam muitas denominações, a igreja de Cristo é una, composta por todos aqueles que professam sua fé em Jesus Cristo como Senhor e Salvador pessoal.

4. A ESCRITURA SAGRADA É A VERDADE REVELADA

Se nem o papa, a tradição ou as denominações cristãs não têm a palavra final, qual é a autoridade normativa deve moldar a fé cristã da igreja? Os reformadores e seus herdeiros teológicos deram resposta a essa pergunta.

Ÿ O Catecismo Maior de Westminster afirma - na resposta à pergunta 3: “As Escrituras Sagradas - O Antigo e o Novo Testamentos são a Palavra de Deus, a única regra de fé e obediência.”

Ÿ A Confissão de Fé de Westminster confirma - “O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas, e por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, em cuja sentença nós devemos firmar, não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura” (I. 10).

Ÿ Os reformadores afirmam a autoridade fundamental - segundo a qual a igreja deve moldar sua fé não é a opinião de pessoas, por mais ilustres que sejam, nem a história de instituições religiosas, por mais respeitáveis que sejam, nem as preferências dos cristãos, por mais adequadas que possam parecer, mas o Espírito Santo, falando na Escritura. “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva” (Is 8.20).

Ÿ O Pacto de Lausanne afirma a Autoridade e o Poder da Bíblia - Afirmamos a inspiração divina, a veracidade e autoridade das Escrituras tanto do Velho como do Novo Testamento, em sua totalidade, como única Palavra de Deus escrita, sem erro em tudo o que ela afirma, e a única regra infalível de fé e prática. Também afirmamos o poder da Palavra de Deus para cumprir o seu propósito de salvação. A mensagem da Bíblia destina-se a toda a humanidade, pois a revelação de Deus em Cristo e na Escritura é imutável. Através dela o Espírito Santo fala ainda hoje. Ele ilumina as mentes do povo de Deus em toda cultura, de modo a perceberem a sua verdade, de maneira sempre nova, com os próprios olhos, e assim revela a toda a igreja uma porção cada vez maior da multiforme sabedoria de Deus. [Lausanne, Suíça, 1974].

Ÿ A Declaração de Fé dos Batistas Brasileiros afirma - que a Bíblia é a Palavra de Deus em linguagem humana. É o registro da revelação que Deus fez de si mesmo aos homens; Sendo Deus seu verdadeiro autor, foi escrita por homens inspirados e dirigidos pelo Espírito Santo; Tem por finalidade revelar os propósitos de Deus, levar os pecadores à salvação, edificar os crentes e promover a glória de Deus; Seu conteúdo é a verdade, sem mescla de erro, e por isso é um perfeito tesouro de instrução divina; Revela o destino final do mundo e os critérios pelo qual Deus julgará todos os homens; A Bíblia é a autoridade única em matéria de religião, fiel padrão pelo qual devem ser aferidas as doutrinas e a conduta dos homens;  Ela deve ser interpretada sempre à luz da pessoa e dos ensinos de Jesus Cristo (CBB).

Ÿ O Credo Doutrinário CBSI afirma no Artigo 1º - Cremos que as Escrituras Sagradas, compostas do Antigo e do Novo Testamento, são divinamente inspiradas por Deus; sendo o seu conteúdo fiel aos originais, a verdade sem qualquer mescla de erro, constituindo-se no supremo padrão pelo qual toda a conduta, credos, doutrinas, opiniões e tradições humanas devem ser julgados (2Tm.3.16, 17; 2Pe.1.19-21; Is.8.20).

Concluimos que de acordo com a teologia reformada, nenhuma voz na igreja de Cristo, pode se elevar acima da Escritura Sagrada, inspirada pelo Espírito Santo para conduzi-la a toda verdade. Cristo é o cabeça da igreja, e ele a governa segundo os preceitos estabelecidos na Escritura. Nenhum líder, nenhuma denominação cristã, nenhum concílio, nenhum costume, nenhuma tradição têm valor normativo para a igreja cristã. Só a Escritura Sagrada: “sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1.20-21).

Você já reparou como as pessoas em geral, quando a Escritura diz alguma coisa com a qual não concordam, simplesmente dizem que os tempos mudaram. Assim, abandonam o ensino bíblico e seguem seu próprio caminho. Cumpre-se literalmente, a advertência profética do apóstolo Paulo: “prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério” (2Tm 4.2-5). Amém!

Belo Horizonte, 31 outubro 2020

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