PENTECOSTE SE REPETE?

Pastor José Rêgo do Nascimento

“Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar” (Atos 2.1)

Vez por outra somos interrogados, se Pentecoste se repete. A razão é facilmente compreensível: se o Pentecoste realizou-se uma e única vez, não sendo possível repetir-se, buscar a experiência para a nossa vida, é simplesmente tentar o impossível. No Novo Testamento, Pentecoste marca para a Igreja Cristã o derramamento inicial da virtude do Espírito Santo e o início efetivo do Seu ministério peculiar. Naquele dia cumpriu-se a promessa do Pai, de modo que associamos a benção ao dia, apenas como ponto de referência. O fato histórico foi unicamente circunstancial, enquanto a benção espiritual é permanente. A mesma verdade aplica-se de igual modo, aos demais eventos da divina revelação da santíssima Trindade. A Palavra de Deus tem ensino claro sobre o assunto. É o que passaremos a ver. 

1. SINAI: A REVELAÇÃO DE DEUS PAI

Promovida a libertação do povo de Israel do jugo egípcio, foram abatidos definitivamente os exércitos de Faraó na região de Pi-Hairote, na célebre passagem do mar Vermelho (Êxodo 14.15-31). Moisés, orientado por Deus, nos sinais da coluna de nuvem de dia e da coluna de fogo de noite, conduziu o povo para o sul, em demanda ao Sinai, palco da primeira e sobrenatural manifestação da Divindade. Deus providenciou água, maná e codornizes para alimento. No Sinai, o Senhor vai se manifestar diretamente a Israel. O povo é ordenado a se purificar preparando ambiente para a visitação sobrenatural do Deus Santo e Todo-poderoso. Por três dias se purificaram e em seguida, dirigidos por Moisés ocuparam a parte mais baixa do monte, ali permanecendo. Estavam terminantemente proibidos de tocar no monte. E ocorreu a gloriosa manifestação. “E todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo: e sua fumaça subiu como fumaça dum forno, e todo o monte tremia grandemente” (Êxodo 16.18). Trovões acompanham o fumegar e tremer do monte, ao ponto de fazer recuar, amedrontando, o próprio povo (Êxodo 20.18).  E nesse ambiente saturado de sobrenatural o Senhor falava, entregando diretamente ao povo, os “Mandamentos da Lei”. Eis o fato do Sinai, com as suas duas partes bem distintas e definidas. Primeiro, o evento em si ou fato histórico: o momento que marcou a vinda especial do Senhor, com fogo, trovões e tremor do monte. Segundo, a sua consequência: a dádiva da Lei. O fato histórico realizou-se no dia e não mais se repete. A dadiva da Lei, essa continuou como patrimônio de bençãos para os israelitas ali presentes, mas de igual modo para as gerações por vir. A Lei foi dada ao povo de Israel, para que diligentemente observasse seus mandamentos e assim se tornaria “propriedade peculiar de Deus dentre todos os povos, reino sacerdotal e povo santo (Êxodo 19.5-6).

2. CALVÁRIO: A REVELAÇÃO DE DEUS FILHO

Segundo o sábio propósito de Deus, “na plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gálatas 4.4). Deus tinha um plano para o povo de Israel: ser o veículo por meio do qual, o Senhor alcançaria os demais povos para a salvação. Uma nação pagã e imoral jamais poderia ser berço do Cristo. E quando cumpriu-se o tempo, diz-nos São Paulo, Deus enviou seu Filho. Jesus é a universal provisão redentora de Deus. Não somente para o povo escolhido, mas para todo o mundo: judeu ou gentio, escravo ou livre (Gálatas 3.28). O feito redentor foi realizado no Calvário. A cruz foi o receptáculo do mais estranho e transcendente dos atos de Deus. Pois nela Deus o Filho se ofertou para o mundo como hóstia única e eterna. “Porque com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados” (Hebreus 10.14). Quando o sangue de Jesus escorreu pelo lenho nu e misturou-se com a terra, estava naquele momento “reconciliando o mundo consigo” (2Corintios 5.19). Estava proclamando a herança universal da humanidade para a salvação. “Quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo” (João 12.32). Não somente os judeus, um povo peculiar, mas todos os seres humanos são agora chamados para a salvação. Atentemos para o fenômeno do Calvário. Assim como ocorreu no Sinai, temos no Calvário um fato histórico e uma benção consequente. O evento histórico compreende o momento da oferta, crucificação e morte do Senhor. E a par com esses atos, aqueles fenômenos sobrenaturais testemunhados pelos evangelistas: “Era quase já a hora sexta e, escurecendo-se o sol, houve trevas sobre toda a terra até hora nona” (Lucas 23.44). “O véu do santuário se rasgou em duas partes, de alto a baixo: tremeu a terra, fenderam-se as rochas, abriram-se os sepulcros e muitos corpos de santos que dormiam, ressuscitaram” (Mateus 27.51-52). É claro que tal acontecimento não mais se repete. “Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus” (1Pedro 3.18). Mas Calvário não se resume no fato histórico. Qual a benção que nos legou? Todos nós sabemos: redenção para todos os que crerem. “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16).Todos os seres humanos são assim, chamados para a salvação. E tal benção continuará válida até a consumação dos séculos.

3. PENTECOSTE: A REVELAÇÃO DE DEUS ESPÍRITO SANTO

Pentecoste: É a promessa do Pai que o Espírito Santo virá. “Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei pois na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder” (Lucas 24.49). Ele é o “outro Consolador”, igual ao Senhor Jesus em divindade, ainda que distinto em pessoa. É Deus, o Espírito. Jesus avisou seus discípulos para se dirigirem a Jerusalém e ali aguardarem a vinda do Espírito Santo (Atos 1.4,5,8). Finalmente, no dia de Pentecoste, cumpriu-se a gloriosa promessa: “Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem” (Atos 2.1-4).

Assim com ocorreram no Sinai e no Calvário, temos no Pentecoste um fato histórico e uma benção consequente. O fato histórico compreende o momento da chegada do Espírito Santo com os fenômenos sobrenaturais verificados: som como de vento veemente e impetuoso, sinais volitivos como de línguas de fogo. Assim Pentecoste, como evento histórico, como ocasião da chegada do Espírito Santo para inaugurar o ministério da sua dispensação, não mais se repete. Mas Pentecoste não se resume no fato histórico. Deixou uma benção permanente: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (Atos 1.8). A unção maravilhosa que nos capacita a viver em santidade, quebrantados diante do Senhor, testemunhando efetivamente de Jesus Cristo. Essa benção não ficou no dia de Pentecoste. Não foi dada somente aos cento e vinte do Cenáculo. Pertence como patrimônio, a tantos quantos receberem a graça salvadora. “Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão de vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos, e para todos os que ainda estão longe, isto é, para  quantos o Senhor nosso Deus chamar” (Atos 2.38-39). Pentecoste se repete toda vez que um servo do Senhor recebe a maravilhosa benção do Batismo no Espírito Santo. Ainda que o momento histórico continua inalterável.

4. CONCLUSÃO

Quando dizemos que Pentecoste se repete, estamos nos referindo a sua benção consequente: a posse e revestimento de poder, a maravilhosa unção que o Espírito Santo concede àqueles que a recebem. Essa se repete e vem se repetindo através dos anos. Milhares têm comprovado em suas vidas, a verdade da Escritura Sagrada de que o Senhor Jesus não somente redime da condenação do pecado. Mas ainda purifica e reveste com o poder do seu Santo Espírito, o glorioso batismo. O Espírito Santo toma plena posse do salvo e comunica-lhe a experiência de santo revestimento, unção do alto, que se repete vida em fora, na experiência de uma vida guardada submissa. A gloriosa benção nasceu em Pentecoste e vem se repetindo através dos anos desde Atos dos Apóstolos. Nesse sentido, a experiência comprova a lição das Escrituras: Pentecoste se repete. “Quando, porém, comecei a falar, caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós, no princípio. Então, me lembrei da palavra do Senhor, quando disse: João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo. Pois, se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus?”. (At 11.15-17). Amém! 

Fonte: Livro Calvário e Pentecoste, Ed. 1960.

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