GOVERNO APOSTÓLICO DA IGREJA NO REINO


GOVERNO APOSTÓLICO DA IGREJA NO REINO

@p Jota Moura Rocha

 

A palavra Igreja ekklesia significa os que foram chamados para fora. A Escritura Sagrada fala da igreja como um edifício, como um povo e como um corpo. Também a conhecemos como uma organização, congregação, assembleia.

Nos tempos do Antigo Testamento, Deus governava diretamente o povo de Israel, guiando-o através dos patriarcas, juízes e profetas. No Novo Testamento, porém, Ele constituiu ministros com essa tarefa, e este é o exercício da Teocracia Apostólica (At 2.42).

1. GOVERNO  APOSTÓLICO GERAL NA IGREJA PRIMITIVA

1) Durante os primeiros cem anos - o governo geral da Igreja foi apostólico. Tanto os ministérios como a administração eram dirigidos pelos apóstolos, escolhidos pelo Senhor. (Mt 10.2-4; At 1.26; Rm 16.7; Gl 1.19).

2) Depois do primeiro século – no período patrístico inicial certos movimentos como o Gnosticismo (que negava a existência humana de Jesus) e o Montanismo (que não aceitava outra liderança senão a do Espírito) começaram a ameaçar a estabilidade da igreja.

3) Organizaram-se concílios eclesiásticos – para tratar dessas e outras causas que levaram as igrejas então existentes a se unirem, chegando a um acordo a respeito de:

·       Um só credo doutrinário e fé regeneradora em Jesus Cristo.

·       Uma só forma de governo presbiterial/episcopal para a Igreja.

·       Um só cânon das Escrituras do Antigo e Novo Testamento (Bíblia), como regra de fé e prática cristã.

·       Uma única associação de igrejas para cooperação mútua e melhor se defender das heresias, que veio a ser chamada Igreja Católica Apostólica.

2. LIDERANÇA DO PRESBITÉRIO NA IGREJA LOCAL

1) A palavra grega presbyteros foi transliterada - para o português como presbítero, com o significado de ancião (corresponde ao termo hebraico zaqen). Um rápido estudo nos dirá que a palavra ancião se aplica à dignidade da função, enquanto que a palavra presbítero refere-se aos deveres da mesma. Os dois termos são bíblicos, e ambos se referem a uma pessoa madura, tanto mental, emocional, como moral e espiritual. Sua função específica na igreja local é a de um ministro que exerce liderança (1Tm 5.17; 1Ts 5.12).

2) Presbíteros no Novo Testamento - Foram ordenados para servir na igreja local (At 14.23). Integram o presbitério que lidera a igreja distrital (At 16.4). Participam de Concílio Geral para tomar decisões (At 15.2,4,6). Formados para o desenvolvimento da Igreja (At 20.17; 21.8). Responsáveis pela administração dos serviços da Igreja (At 11.29-30). Quando se dedicam ao ensino da Palavra são dignos de dobrada honra (1Tm 5.17). Devem ser qualificados ao serviço da Igreja (Tt 1.5). São aqueles que ministram cura através da oração da fé (Tg 5.14). São apascentadores do rebanho de Deus (1Pe 5.1,2), formando equipe com os apóstolos (2Jo 1; 3Jo 1). Assim, participam da ordenação ministerial com imposição de mãos (1Tm 4.14).

3) O trabalho dos presbíteros - vemo-los como ministros de Deus, reconhecidos pela Igreja que:

·       Dedicam o seu tempo parcial ou integralmente no trabalho do Senhor Jesus.

·       Têm responsabilidade ao tomar decisões espirituais na igreja, auxiliando os pastores titulares, bispos e apóstolo.

·       Ministram a Palavra de Deus, ensinando e proclamando o Evangelho do Reino de Deus.

·       Preenchem qualificações bíblicas específicas afim de desempenhar essa alta função.

·       Podem servir como adjunto de um pastor, mas não estão limitados a este dom ministerial, pois deve-se levar em conta o dom operacional de cada um.

4) Uma Consideração Importante - O Novo Testamento sempre se refere a presbítero no plural, sem qualquer exceção, quando fala de seu envolvimento na Igreja. Tanto Pedro como João eram apóstolos, e ambos, se referiam a si mesmos como presbíteros. Portanto, vemos que os presbíteros em atividade, pode exercer qualquer um dos dons ministeriais conforme recebeu do Senhor (1Pe 4.10-11). Visto que ninguém exerce todos os dos ministeriais, e uma vez que a igreja precisa de todos eles para o seu crescimento, é necessária uma função presbiterial múltipla.

3. LIDERANÇA DOS BISPOS NA IGREJA DISTRITAL

1) Episkopos na definição do grego - significa supervisor, vigilante, superintendente e administrador. Um bispo é uma pessoa que supervisiona o trabalho de Deus. O simples uso da concordância nos mostra que a palavra pastor aplicada à liderança da Igreja é mencionada no Novo Testamento apenas uma vez (Ef 4.11); o diácono é mencionado duas vezes (Fl 1.1; 1Tm 3.8-12), enquanto o bispo é citado nada menos que cinco vezes (Fl 1.1; 1Tm 3.1; Tt 1.7; 1Pe 2.25 e At 20.28).

2) Termos substitutos para o bispo - ao tentar evitar os excessos de autoridades que a Igreja Católica Romana atribui a seus bispos, a igreja protestante, em sua maior parte, ignorou essa função. (Com notáveis execuções, com a Comunhão Anglicana, a Igreja Metodista, a Pentecostal Holiness, Igreja Batista Episcopal (África), etc). E, por isso, achou termos sucedâneos, tais como: superintendente, superviso, moderador, e assim por diante. Vemos que conquanto o termo possa ter sido abolido, a função permanece, assim como as qualificações dos que a exercem.

3) Referências Neotestamentária aos bispos – veja as qualificações requeridas em 1Tm 3.1-7; Tt 1.7-9. São 22 qualificações para a função de bispo. Concluímos afirmando que a função do bispo é bíblica e necessária para a estrutura de governo da igreja, quer aceitemos ou não outros aspectos da ordem episcopal, tal como é vista hoje em dia. Todo trabalho exige disciplina, e toda disciplina requer quem a execute. No primeiro século, sob o governo apostólico, vemos que aquilo que depois se tornou a função dos bispos, era realizado pelos apóstolos.

4. MONARQUIA EPISCOPAL DA IGREJA CATÓLICA

1) A partir do terceiro século DC - quando a autoridade da federação das igrejas começou a centralizar-se em Roma, desenvolveu-se um sistema de governo de caráter episcopal monárquico. Com efeito, é a partir de 312 que Constantino afirmou-se, e cada vez mais, como cristão. É a partir de 392 (com a lei que proibiu os ritos pagãos, pública ou privativamente) e mais ainda em 394 (ano do fim da reação pagã tolerada por Eugenius) que o cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano.

2) Assim nasce a Igreja Católica Apostólica Romana – do casamento híbrido da Igreja com o Estado, criando a sincretização do cristianismo com o paganismo, incluindo:

·       A formação de uma hierarquia, com funções inexistentes nas Escrituras, como as de Arcebispo, Papa e Cardeal.

·       A centralização da autoridade eclesiástica nos bispos e finalmente no papa e seus cardeais ao redor do mundo.

·       A criação de uma classe sacerdotal, separada do conjunto de cristãos.

·       A autoridade eclesiástica como força política, com base na união Igreja-Estado.

·       A equiparação e/ou superioridade da tradição da Igreja sobre a autoridade bíblica, e daí, por diante muitas outras heresias.

5. DIVERSIDADE DE GOVERNO EVANGÉLICO

Através dos tempos, e em particular depois da Reforma do Século XVI, desenvolveram-se vários outros sistemas para governar as igrejas evangélicas.

1) Governo Congregacional - no qual cada igreja local é soberana. Seu líder é escolhido e ordenado dentre seus membros, e não há controle externo. As diferenças entre as formas de governo metodista, presbiteriana e batista, são variações sobre o tema controle central versus controle local, com diferentes graus de influência democrática, presbiterial e episcopal-ditatorial (pentecostal).

2) Governo Denominacional - no qual as igrejas individuais concordam em permanecer sob uma autoridade central que não é, em essência, episcopal, mas admite vários graus de democracia, tendo tanto clérigos como leigos em seu corpo dirigente. Notamos uma ênfase excessiva no ministério pastoral na maioria das igrejas evangélicas. Em algumas denominações, pastor é o único título usado para definir os ministros.

3) Governo Episcopal - da Igreja Católica Romana foi bem além do padrão bíblico, tendo estabelecido cargos e funções eclesiásticas inexistentes no Novo Testamento, copiando o governo do Império Romano. Tanto na Igreja Católica como nas igrejas evangélicas descobrimos a aceitação de muitas coisas meramente pragmáticas, no desenvolvimento de cada sistema de governo eclesiástico. Certos títulos e definições de funções foram consagrados pelo tempo e perpetuaram-se porque era tarde demais para mudar. Ex: vice moderador, guia-leigo, arcebispo, cardeal, etc.

6. GOVERNO APOSTÓLICO NA IGREJA ATUAL

1) Funções ministeriais no Novo Testamento - são fundamentais para todas as necessidades da Igreja. Basta que alguém seja reconhecido como pessoa agraciada com dons de Deus, que preencha as qualificações específicas das Escrituras, e que seu chamado e/ou função seja reconhecida por seus irmãos e trabalhe para a edificação da Igreja (1Co 12.12-13). Os chamados pelo Senhor e escolhidos pela Igreja servem na liderança da Igreja.

2) Estrutura ministerial de governo apostólico – o ministério apostólico lança os fundamentos da Igreja de Cristo (Ef 2.20-22; 4.11). Forma equipes ministeriais que promovem a edificação e unidade da Igreja, como corpo vivo de Cristo. Assim inclui na missão apostólica: profetas, socorros, evangelistas, curas, pastores e mestres, línguas e interpretação de línguas (1Co 12.28). Cada candidato a uma função ministerial dentro da Igreja deve preencher certas qualificações claramente delineadas nas Escrituras: bispo (1Tm 3. 1-7); presbítero (Tt 1.5-9); diácono (1Tm 3.8-13). Uma vez que é o Senhor quem dá os dons ministeriais, as Escrituras Sagradas falam das qualidades necessárias para o exercício do ministério, especialmente que seja fiel (1Co 4).

3) O ministério apostólico de Paulo – Paulo convertido a Cristo no caminho de Damasco, foi chamado e escolhido extemporaneamente para o apostolado aos gentios (Gl 1.1; 1Tm 2.7; 1Co 15.8). Paulo teve que disciplinar um outro apóstolo (Pedro) e o fez na função de apóstolo (Gl 2.11). Vemos a operação do ministério apostólico em outros aspectos: Paulo dava direção e conselhos a outros ministros. (1Tm 4.11-16). Ele confirmava ministérios (At 15.41; 18.23). Constituía ministérios pela imposição de mãos (2Tm 1.6). Exercia disciplina e governo sobre a Igreja (1Co 5) e compartilhava dons espirituais com os fiéis (Rm 1.11-12).

4) Os 5 ministérios fundamentais da Igreja - As Escrituras Sagradas dizem que Deus deu cinco ministérios básicos à Igreja: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. A finalidade destes dons espirituais é o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério para a edificação do Corpo de Cristo “até que todos cheguemos a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura de Cristo” (Ef 4.11-15). Amém!

7. O PROPÓSITO DO GOVERNO NA IGREJA É A DIAKONIA

O termo ministro/ministério na Bíblia, do Antigo ao Novo Testamento abrange a todos os níveis de serviços e ministérios na casa de Deus. Nosso amado Senhor e Salvador Jesus Cristo pontuou: “Jesus, pois, chamou-os para junto de si e lhes disse: Sabeis que os governadores dos gentios os dominam, e os seus grandes exercem autoridades sobre eles.    Não será assim entre vós; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será vosso servo” (Mt 20.25-27). Examinaremos a seguir, as palavras utilizadas pelos escritores sacros para amplificar nosso entendimento sobre nosso chamado cristão para servir a Cristo e Sua Igreja no mundo.

1) A palavra diákonos no Novo Testamento – significa servir, a princípio num sentido não técnico, e então em Fl 1.1 e nas epístolas pastorais, aparece como o título de um oficial eclesiástico. Refere-se ao serviço em geral, temporário ou permanente, quer realizado por escravos quer por livres; mas tem o sentido especial de servir às mesas. O próprio Cristo aparece entre os discípulos como ho diakonon ou “aquele que serve” (Lc 22.27), e pode ser descrito como um diakonos da circuncisão (Rm 15.8). Seguindo o exemplo desse humilde serviço, os maiores cristãos, à semelhança de Cristo, devem ser os ministros dos demais (Mt 20.26; Mc 10.43). Assim é que encontramos os apóstolos e seus auxiliares designados como ministros de Deus (2Co 6.4; 1Ts 3.2), ministros de Cristo (2Co 11.23); ministros do Evangelho (Ef 3.7; Cl 1.7); ministros da Nova Aliança (2Co 3.6); ministros da Igreja (Cl 1.25); ou em sentido absoluto “ministros pelos quais crestes” (1Co 3.5; Ef 6.21).

É bom observar também que Satanás tem igualmente seus ministros (2Co 11.15); e existe até o ministro do pecado (Gl 2.17); e o poder secular, o poder do Estado ou público é reputado também como “ministro de Deus” (Rm 13.4). Os sete diáconos foram apontados para servir as mesas diakonein trapezais (At 6.2-3) e sua obra primária para visitar de casa em casa e aliviar as necessidades dos pobres e enfermos. Os diáconos eram os principais agentes mediante os quais a Igreja expressava sua comunhão mútua de serviço e a caridade de Jesus Cristo, nosso Deus Salvador aos homens. Febe em Romanos 16.1 é uma mulher descrita como diaconisa na Igreja de Cencréia. As ministras ou diaconisas se desenvolveram na Igreja principalmente a partir do século terceiro da nossa era.

2) A palavra Doulos traduzida por escravo – realça a humildade do serviço cristão, salientando ainda mais poderosamente o serviço cristão mediante a forma de um escravo. Foi esse tipo de servo que Cristo assumiu (Fl 2.7). Os apóstolos foram também designados como doulos, “escravos de Cristo” (Rm 1.1; Gl 1.10; Cl 4.12). Assim sendo, o ministro da Igreja realiza o serviço humilde de um escravo ao Seu Soberano Senhor, pois é um doulos, um escravo de Cristo.

3) A Palavra original Hyperetés – é outro termo para descrever o ministro, que originalmente significa “um remador da fileira inferior de uma galera”, e então passou a significar qualquer pessoa em uma posição subordinada. O próprio apóstolo Paulo ufanava-se de Ter recebido de Cristo tal posição na “galera da Igreja” (At 26.16; 1Co 4.1).

4) O termo original no grego leitourgos  - O vocábulo hebraico meshareth (na Septuaginta, leitourgos) e seus correlatos, normalmente se referem ao serviço no templo ou então à ministração dos anjos (Sl 104.4). Porém, num sentido mais geral, Josué é o meshareth ou “servidor de Moisés” (Êx 24.13; Js 1.1), e “os criados de Salomão” (1Rs 10.5) são seus servos domésticos. O termo correspondente leitourgos é aproveitado pelo Novo Testamento em sentido cristão para designar o ministro/ministério do Evangelho. Originalmente, a palavra se aplicava ao servidor público, e então adquiriu um sentido cristão, na tradução bíblica da Septuaginta. Dessa maneira, Cristo aparece como “leitourgos do templo celestial” (Hb 8.2). Os anjos são espíritos litúrgicos, isto é, “leitourgia = ministrantes” (Hb 1.14). O verbo correspondente é empregado também aos profetas e mestres que ministravam em Antioquia (At 13.2). Assim sendo, na compreensão cristã sobre o exercício do ministério, quer seja na liderança oficial ou não, pois todos os cristãos são ministros na Casa (templo) do nosso Deus, o propósito em qualquer nível de ministério é servir! Portanto, o ministro presta um humilde e amoroso serviço a Deus e aos homens. Amém!

 

Belo Horizonte, 08 abril, 2021.


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