A MÚSICA NO CONTEXTO BÍBLICO
Texto adaptado por: @p Jota Moura Rocha
Louvai ao SENHOR. Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento do seu poder. Louvai-o pelos seus atos poderosos; louvai-o conforme a excelência da sua grandeza. Louvai-o com o som de trombeta; louvai-o com o saltério e a harpa. Louvai-o com o tamborim e a dança, louvai-o com instrumentos de cordas e com órgãos. Louvai-o com os címbalos sonoros; louvai-o com címbalos altissonantes. Tudo quanto tem fôlego louve ao Senhor. Louvai ao Senhor. (Sl 150.1-6)
Para entendermos o povo de Deus dos tempos bíblicos, precisamos vê-los como um povo que gostava imensamente de música. Mas eles não faziam música à nossa maneira hoje, em que um toca e outros ouvem. Muitos deles tocavam seus instrumentos, cantavam e dançavam, não se limitando a escutar apenas. Quase toda reunião ou ocasião festiva servia de pretexto para se fazer música. As atividades musicais variavam muito, desde corais bem ensaiados até espontâneas danças de rua. Eles levavam a vida muito a sério, mas também sabiam divertir-se. A lei de Deus continha muitas orientações que incentivavam a alegria e o divertimento saudável.
1. FUNDO HISTÓRICO
1) A música ocupa um lugar importante na sociedade - logo nos primeiros capítulos da Bíblia. Os filhos de Lameque foram os empreendedores de três significativos ofícios: pecuaristas, artesãos e músicos (veja Gn 4.20-22).
2) A música se revelou um excelente meio de comunicação - entre os seres humanos e destes com Deus. Os hebreus expressavam suas mais profundas emoções em composições poéticas, que eram feitas para serem cantadas especialmente no culto divino. A estrutura da poesia hebraica não era baseada em ritmo, mas em formas de raciocínio, em harmonia de ideias e em antíteses. Não seria errado afirmar que os antigos salmos eram sempre cantados, e geralmente com acompanhamento musical.
3) Não era preciso haver uma ocasião especial - para o canto coletivo. Era comum grupos de trabalhadores cantarem durante o trabalho. Quando Deus prometeu a Moisés que daria água ao povo, ele os reuniu e todos entoaram um cântico de louvor, onde falavam do poço que Deus Ihes dera e que os príncipes haviam cavado (veja Nm 21.16,17).
4) Quando da reconstrução do templo - os sacerdotes se apresentaram para louvar a Deus com cânticos. Tocaram címbalos, trombetas e cantaram em coro para louvar a Deus. A letra desses cânticos falava de louvor e ações de graças. E quando lançaram os alicerces do templo nos dias de Esdras, todo o povo gritou em alta voz (veja Ed 3.10,11).
5) Os músicos eram bastante habilidosos - e possuíam bom conhecimento musical. O rei Davi indicou alguns harpistas e tocadores de címbalos, especificamente para serem os músicos oficiais (veja 1Cr 25.1.6). E havia também os cantores, todos eles muito bem preparados, como os 288 levitas que cantavam no Tabernáculo de Davi (veja 1Cr 25.7).
2. COMO O POVO DE DEUS USOU A MÚSICA
Seria difícil precisar todas as vezes em que o povo de Deus fez uso da música, para atender aos seus objetivos espirituais.
1) Após a famosa travessia do mar Vermelho - Moisés, Mirian e os filhos de Israel louvaram a Deus alegremente, porque ele havia “lançado ao mar o cavalo e seu cavaleiro” (veja Êx 15.4).
2) Através do cântico de Moisés - ele advertiu ao povo de Israel para que evitasse aqueles que estavam tentando corrompê-lo (veja Dt 31.30ss).
3) Davi se utilizou da sua harpa - produzindo uma suave música para afastar os maus espíritos de Saul (veja 1Sm 16.23). Alguns dos cânticos se incorporaram à sua tradição e folclore. Na ocasião em que Davi derrotou os filisteus, seus feitos foram exaltados com cânticos pelas mulheres, o que irritou muito o rei Saul (1Sm 18.6,7). É provável que elas tenham cantado em forma antifonal. Um Solista ou pequeno grupo de cantores dizia: "Saul feriu os seus milhares”, e um grande coral respondia cantando: "Porém Davi os seus dez milhares”.
4) Em outra ocasião Israel cantou para extravasar - sua alegria no dia que recuperaram a arca da aliança, que havia sido capturada pelos inimigos (veja 1Cr 16). Eles saíram com liras e harpas; tocaram címbalos e fizeram soar as trombetas. E o rei Davi escreveu um salmo de ações de graças, especialmente para comemorar o evento. Ao final, o povo gritava "amém" e louvava a Deus.
5) Outro exemplo foi no tempo do rei Josafá - que reuniu o povo para entoar louvores a Deus e exaltar sua santidade, porque ele milagrosamente os tinha livrado dos moabitas e amonitas (veja 2Cr 20.20ss).
3. COMPOSITORES E INSTRUMENTOS MUSICAIS
1) Compositores - Naquela época, os músicos não compunham suas cantigas com intuito comercial, como acontece hoje. E geralmente aqueles que cantavam entoavam suas próprias composições. Provavelmente, os coros cantassem em uníssono, e não a muitas vozes, como se faz em nossos dias, mas isso não quer dizer que eles não ensaiassem. Tanto os solistas como os corais passavam muitas horas preparando seus números. Um dos mais famosos compositores bíblicos foi o rei Salomão, um homem de muitos talentos, que escreveu cerca de 1005 músicas (veja 1Rs 4.32).
2) Os Instrumentos – Existe uma lista grande de instrumentos musicais, sendo que alguns não são conhecidos em nossos dias, porque provavelmente, nem mais existam. Vejamos:
• O Shofar: Tocado nas sinagogas, o shofar é um instrumento feito de chifre de carneiro de forma arredondada. Foi ele que os israelitas tocaram por ocasião da queda das muralhas de Jericó (veja Js 6.20), e o termo hebraico é yobel. Gideon e seus companheiros também tocaram o shofar, para pôr em fuga os midianitas (veja Jz 7.16-22). Na confecção dele não se poderia utilizar chifre de boi.
• O Saltério (lira): Era o instrumento que Davi tocava, feito de cordas montadas sobre madeira. Uma das madeiras usadas na confecção dele era o sândalo (veja 1Rs 10.12). O saltério podia ter de 3 a 12 cordas. Nos dias de Flávio Josefo, fazia-se esse instrumento com dez cordas. O termo hebraico que designa saltério é kinnor.
• A Flauta: A flauta antiga era um instrumento de madeira, e não de metal, que possuía apenas um orifício, pelo qual se controlava a altura do som. Sendo um instrumento de sopro é ancestral do clarinete. Seu tom musical, bastante agudo era ideal para casamentos e funerais (veja Mt 9.23; Is 30.29). Havia ainda outro tipo de flauta, parecida com a primeira e que era apreciada por pastores. Às vezes era feita de madeira, às vezes de osso. Geralmente não era tocada no templo.
• A Trombeta: Constava de um tubo longo, cujas pontas eram alargadas à semelhança da boca de um sino. Na maioria eram feitas de cobre ou de prata. Nas cerimônias do templo, usavam-se sempre duas trombetas de prata. Mas houve ocasião em que os sacerdotes tocaram 120 trombetas (veja 2Cr 5.12).
• A Harpa: A harpa era feita com um bojo de vidro ou de peles em cujas bordas se esticavam as cordas. Mas havia também quem a montasse sobre bases de madeira ou metal. Geralmente se fabricava esse instrumento com dez ou vinte cordas.
• O Tamboril: Era um pequeno tambor semelhante ao pandeiro, feito de um aro de madeira e peles de animais afixados nele. Não era tocado no templo, mas muito apreciado em danças, como na ocasião em que Mirian cantou e dançou com as mulheres de Israel após a travessia do Mar Vermelho. Davi também utilizou o tamboril para dançar, quando mandou trazer a arca de volta a Jerusalém (veja 2Sm 6.5).
• Orquestras e bandas: Tanto em Israel como em outras nações, há muitos grupos musicais organizados. O rei Nabucodonosor era um dos que gostavam de ouvir bandas, bem como Davi (veja 2Sm 6.5) e outros governantes.
• As Danças: Sendo um povo que apreciava a música rítmica, era difícil um Israelita ficar parado ao ouvir as músicas rítmicas. Por natureza, eles são irrequietos e efusivos. Gostam de expressar livremente as emoções, tanto as alegrias como as tristezas. Muitas vezes os seus gritos de angústia, eram tão ruidosos como os gritos de alegria e ações de graças. Os israelitas costumavam dançar por ocasião dos festivais de colheita (veja Jz 21.19ss). Nos tempos Neotestamentários, as crianças dançavam nas ruas (veja Lc 7.32); também houve dança na festa de comemoração da volta do filho pródigo (veja Lc 15.25). 4. A MÚSICA NA ERA CRISTÃ
1) O canto no culto cristão - sempre teve papel muito importante. O próprio Jesus cantava durante as cerimônias religiosas. Por ocasião da última Ceia, antes de sair para o Monte das Oliveiras, ele seus discípulos cantavam o um hino (veja Mt 26.37). É provável que tenha entoado os Salmos 115 a 118, ou 113 e 114, que costumeiramente se cantava na Páscoa.
2) Cânticos nos momentos de aflição - os cristãos obtinham renovadas forças através do cântico de louvor e adoração. Quando Paulo e Silas estavam no cárcere em Filipos, buscaram consolo na oração, no louvor e cântico de hinos (veja At 16.25), enquanto os outros prisioneiros resmungavam e praguejavam.
3) Os primeiros cristãos davam muito valor ao cântico - Era uma maneira de abrir o coração para Deus e uns aos outros, bem como promover a própria edificação. Paulo aborda a questão da música em três textos de suas cartas: Efésios 5.18,19; 1Coríntios 14.15 e Colossenses 3.16. Ele aconselhava os crentes a entoar Salmos, hinos e cânticos espirituais.
4) Paulo ensinava que eles deviam cantar e tocar - Nos dias de tribulação. Nos escritos do Apocalipse, destacam-se diversas manifestações musicais: O cântico dos 24 anciãos dizem: “Digno és de tomar o livro…” (veja Ap 5.9); o cântico dos 144.000: “e cantavam um novo cântico” (veja Ap 14.3); e o cântico dos vencedores: “cantavam o cântico de Moisés” (veja Ap. 15.3).
Para o povo de Deus, tanto da Antiga como da Nova Aliança, a música tem origem Divina. Uma concepção tão bela sobre a arte musical, tanto cantada como tocada em instrumentos, só poderia ter vindo do céu. Por isso, incorporaram nas suas festas, nas cerimônias do templo, nas sinagogas e depois também, naturalmente, a música em suas diversas expressões, passou a ser utilizada pela Igreja de Jesus Cristo através das eras.
Belo Horizonte, 10 julho 2021
Fonte: Willian L. Coleman: Manual dos tempos e costumes bíblicos
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