DIMENSÕES DA ADORAÇÃO
@p. Jota Moura Rocha
Vejo três dimensões no movimento em direção à experiência ideal de adoração no texto supra citado. Podemos experimentar todas as três dimensões em uma hora. Deus se agrada de todas elas, se forem de fato, dimensões no caminho da alegria plena n’Ele. Vejamo-las.
1. DIMENSÃO DO DESERTO
"O SENHOR, o Deus dos hebreus, me mandou dizer-lhe que deixasse o povo dele ir embora para adorá-lo no deserto" (Êxodo 7.16b - NTLH). Nela, toda adoração genuína começa aonde com frequência, retorna para um período escuro. É o deserto da alma que quase não sente nenhum desejo, mas mesmo assim, recebe a graça do triste arrependimento, por ter tão pouco amor a Deus. “Quando o coração se me amargou e as entranhas se me comoveram, eu estava embrutecido e ignorante; era como um irracional à tua presença” (Sl 73.21,22). E. J. Carnell aponta para essa mesma dimensão quando diz: “Sabemos que se chega à retidão por uma de duas maneiras; ou por uma expressão espontânea do bem ou pela tristeza espontânea por ter falhado. A primeira é realização direta; a outra, indireta. Adoração é uma maneira de refletir alegremente de volta para Deus, o brilho do seu valor”. Esse é o ideal. Deus, com certeza, é mais glorificado quando nos alegramos em Sua magnificência do que quando somos tão pouco tocados por ela, que quase não sentimos nada, e apenas desejamos fazê-lo. Mas Ele também é glorificado pela faísca de alegria antecipada, que dá lugar à tristeza que sentimos quando nosso coração está morno. Mesmo em meio à culpa miserável que sentimos com nossa insensibilidade embrutecida, a glória de Deus brilha. Contudo, mesmo essa tristeza, para dar honra a Deus, tem de ser, em certo sentido, um fim em si mesmo. Não que deva levar a algo melhor, mas que deve ser real e espontânea. A glória que carecemos não pode ser refletida em uma tristeza calculada. Como dia Carnell, “a realização indireta está despida de virtude, sempre que é transformada em alvo buscado conscientemente. Quem tenta lamentar-se deliberadamente, jamais estará triste. A tristeza não pode ser induzida por esforço humano”.
2. DIMENSÃO DO ABATIMENTO
Nela, desfrutamos com frequência, não sentimos plenitude, mas anseio e desejo. Já tendo degustado o banquete antes, lembramos da bondade do Senhor, mas ela parece distante. Pregamos à nossa alma que não fique abatida, porque temos certeza de novamente louvar o Senhor (Sl 42.5). Porém, no momento, nosso coração não está fervoroso. Mesmo que isso não atinja o ideal de adoração e esperança vigorosa, ainda seja uma grande gratidão a Deus. Agradecemos a água de uma fonte da montanha, não apenas com a satisfação depois de bebermos, mas também, pelo anseio sedento de ser satisfeitos, enquanto ainda estamos na escalada da montanha. David Brainerd expressou esse paradoxo: “Ultimamente Deus tem se agradado em manter minha alma faminta quase constantemente, de modo que tenho estado cheio de um tipo de dor agradável. Quando realmente desfruto Deus, sinto que meus desejos d’Ele são mais insaciáveis, e minha sede de santidade, mais intensa”.
3. DIMENSÃO DA CONTEMPLAÇÃO
Nela, sentimos uma alegria totalmente descontraída nas multiformes perfeições de Deus: a alegria da gratidão, da maravilha, da esperança, da admiração. “Como de banha e de gordura farta-se a minha alma; e, com júbilo nos lábios a minha boca de louva” (Sl 63.5). Nessa dimensão estamos satisfeitos com a excelência da comunhão íntima com Deus. É o banquete do prazer cristão no gozo da sua íntima comunhão e adoração ao Pai Celestial.
4. ADORAÇÃO COMO OBEDIÊNCIA
Adoração é nada menos que obediência ao mandamento de Deus: “Agrada-te do Senhor!” (Sl 37.4). A virtude mal dirigida diminui o espirito de adoração. A pessoa que tem noção vaga de que é virtuoso reprimir o interesse próprio, e que é errado buscar o prazer espiritual, dificilmente será capaz de adorar. Porque adoração é a atividade mais hedonista da vida, e não deve ser arruinada com o menor pensamento de desinteresse. O profeta Jeremias o disse assim: “Meu povo trocou a sua glória por aquilo que é de nenhum proveito. Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! Ficai estupefatos, diz o Senhor. Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram para si cisternas rotas, que não retém as águas” (Jr 2.11-13). Os céus ficam espantados e chocados quando pessoas abandonam rapidamente sua busca do prazer espiritual na comunhão intima com Deus e se acomodam às cisternas rachadas da busca dos prazeres mundanos e carnais. “Alegrai-vos sempre no Senhor” (Fp 4.4).
5. PIOR INIMIGO DA ADORAÇÃO
A meditação sobre a natureza da adoração que gera a revolta contra o prazer, mata o espirito de adoração em muitas igrejas e corações. A noção difundida de que ações de elevada moral precisam estar isentas de interesse próprio, é um grande inimigo da verdadeira adoração. Adoração, é o ato moral mais elevado que um ser humano pode perpetrar. Assim, a única base e motivação para ela, e que muitas pessoas podem conceber, é a noção de moralidade como execução desinteressada do dever. Todavia, quando a adoração é reduzida a um dever desinteressado, deixa de ser adoração, porque adoração é festa e celebração em Deus. O grande impedimento à adoração não é que sejamos pessoas que buscam o prazer, mas que, estamos dispostos a nos satisfazer com prazeres tão miseráveis. Não devemos buscá-lo desinteressadamente, por medo de vir a ter alguma alegria na adoração e assim, arruinar o valor moral do ato. Em vez disso, devemos buscá-lo objetivando o prazer, do mesmo modo que um cervo sedento busca o ribeirão de águas, precisamente pela alegria de conhecê-lo experimentalmente!
Comentários
Postar um comentário