CR #20: PESCADORES DE HOMENS OU ZELADORES DE AQUÁRIOS?
por Ap. Jota Moura
“Vinde
após mim e eu vos farei pescadores de homens” – Jesus
A
metáfora que nosso Senhor usou para ilustrar o zelo evangelístico e missionário
dos cristãos, não poderia ter sido mais feliz. Ele tinha em mente, por certo,
os pescadores de seus dias, homens rudes, mas trabalhadores, que em toscas
embarcações se atiravam ao mar em busca de alimento. Seu serviço era dos mais
pesados e exigia uma série de qualidades tais como paciência, perseverança e
acima de tudo trabalho constante. Dia e noite estavam eles a postos, singrando
o mar, estudando a direção do vento, buscando novos cardumes. Seus instrumentos
de trabalho precisavam estar sempre em boas condições exigindo-lhes, por isso,
cuidado no preparo dos barcos e no remendo das velhas redes. Eram rudes e
pobres mas nem por isso, fracos e ignorantes. Pelo contrário.
CHAMADOS
PARA A MISSÃO
Naqueles
dias só se aventuravam ao mar os fortes de corpo e alma. A pesca não era para
os fracos e covardes. Estes ficavam na praia, esperando de manhãzinha o fruto
colhido nas redes lançadas durante a noite – noite nem sempre calma, às vezes,
bem tormentosa. Nosso Senhor precisava de homens assim. O trabalho de
evangelização só poderia ser realizado por gente afeita a tempestades, a longas
vigílias e a esperas intermináveis. Paciência, coragem, perseverança e uma
porção de coisas necessárias a um bom missionário, eram qualidades que não
poderiam faltar aos pescadores de homens. Foi o que Jesus fez. Pedro, Tiago,
João e muitos outros apóstolos e discípulos após o convite do Senhor,
embrenharam-se por todos os cantos do seu mundo ainda pequeno, mas já tão perigoso,
em busca de vidas que aceitassem aquilo que eles já haviam aceito, que Jesus
era o Cristo de Deus, o único Senhor e Salvador da humanidade.
IGREJA
– AQUÁRIO
Mas
entendo que o Senhor jamais sonhou que os cristãos com o passar do tempo,
poderiam deixar de ser pescadores de homens para se transformarem em plácidos
zeladores ou pescadores de aquários! Pois não é verdade que nossas igrejas, em
sua grande maioria, não passam de aquários bem cuidados, com meia dúzia de
peixinhos dourados a nadarem em águas tranquilas?
E
nós, em que nos transformamos nós – ministros, pastores, catequistas,
sacerdotes – muitas vezes, senão em meros guardiões de aquários bonitinhos,
substituindo um ou outro peixinho que morre por outros de outros aquários. Ora
oferecendo migalhas de pão à hora certa, mudando essa ou aquela planta para que
os raros habitantes de nossos aquários não pereçam à míngua de oxigênio? Os
resultados aí estão. Uns acostumados a dar sempre ou quase sempre a mesma
coisa, outros a receber sempre ou quase sempre a mesma coisa, numa rotina
aniquilante, geradora de condicionamentos religiosos dignos de estudo por um
Pavlov.
Além
disso, tem o tamanho do aquário. Pequeno ou grande, não importa, sempre
aquário, deixando ver o que se passa lá fora, mas impedindo o habitante de
aventurar-se a águas desconhecidas. Aliás, isso não é possível. Primeiro,
porque o zelador geralmente não deixa. Depois, porque o peixinho não tem
condições para lançar-se a mares bravios, sob pena de perecer à sanha de
animais acostumados a viver em águas profundas e revoltas.
DESPERTAR
PARA A REALIDADE
Ora,
pensam muitos, se a Igreja se transformou em aquário e nós em peixinhos
dourados e/ou zeladores, o melhor é deixar como está. Ninguém mexe em
estruturas fixas impunemente. É perigoso. É impopular. Talvez não seja nem da
vontade de Deus. E, enquanto as racionalizações se sucedem, a Igreja vai
ficando como está, introvertida, ensimesmada, preocupada consigo mesma, vivendo
e morrendo para si mesma...
Não
é para menos que muitos ministros e leigos se sintam frustrados, no primeiro
contato com a realidade que encontram fora do aquário. O mar nem sempre é
calmo, as noites nem sempre serenas. É que os conceitos românticos acumulados
em suas mentes, aprendidos em seminários, grupos de estudo e discussão, aulas
baseadas nas últimas técnicas de educação religiosa e temas fundamentados em
livros bem traduzidos, não coincidem com a realidade chocante e desconcertante
que existe fora do aquário. Desiludidos, descobrem que a igreja, longe de viver
as realidades desta vida, contenta-se não poucas vezes, em cunhar frases
bonitas sobre os acontecimentos do passado ou promessas do futuro que a
envolvem e que realmente fazem história. De duas, uma: ou prosseguem
definhando, ou contentam-se em viver alienados serenamente no aquário.
O
DESAFIO TRANSFORMADOR
“Graças
a Deus, porém, que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo.” Graças a
Deus que suscita homens e mulheres de fé e coragem, pescadores que estudam as
evoluções dos ventos nos céus e sondam as águas dos mares em busca de cardumes,
não importa onde se encontrem. Pode ser perto dos rochedos, pode ser em torno
de recifes traiçoeiros, pode ser até em alto mar. Não importa o perigo. O que
importa é ser pescador de verdade, que depois da pesca deita o fruto de seu
labor aos pés daqueles que sentados nas areias da praia, não tiveram coragem de
enfrentar os perigos da noite. Jamais se contentar em zelar aquário e/ou pescar
em aquário alheio (proselitismo) que incha a Igreja, mas não cresce o Reino de
Deus.
Nos
dias de Jesus a pesca não era para os fracos e covardes. Por isso Ele escolheu
os fortes de corpo e alma. Nos dias atuais, a pesca de vidas continua sendo
para os que não temem os perigos do mar. Por isso, uns são pescadores de
verdade. Outros fazem poesia sobre pescaria. Todos os cristãos, somos chamados
a testemunhar a fé em Cristo. Uns, porém contentam-se em zelar e pescar em
aquários dos outros. Outros são impelidos pelo Espírito Santo, ao alto mar!
Voltarão, sem dúvida, trazendo abundantes peixes para depositar aos pés do
Senhor de todos!
Texto
adaptado de Rev. Curt Kleemann
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