CR #26: NOSSA CONFISSÃO
por Ap. Jota Moura
O
termo bíblico traduzido por confessar, tanto no hebraico (tôdhâ) como no
grego(homologein), tem dupla conotação: confissão de fé e confissão de pecado.
Por um lado, confissão significa declarar publicamente a própria relação e
lealdade com Deus. Trata-se de uma entrega voluntária a Deus, na presença do
mundo, mediante a qual um indivíduo ou uma congregação se ligam por lealdade a
Deus na pessoa de Jesus Cristo. Portanto, é um compromisso de fé que pode ter eternas
consequências escatológicas. Por outro lado, significa reconhecer a natureza
humana pecaminosa e culpa à luz da revelação de Deus, sendo, por isso mesmo, um
sinal externo do arrependimento e da fé em Cristo. No Antigo Testamento a
confissão podia ser ou não seguida pelo perdão (Js 7.19; Lv 26.40; Sl 32.5). No
Novo Testamento a confissão sempre pressupõe o arrependimento que leva ao
perdão incondicional pela graça de Cristo (Mt 27.4; 1Jo 1.9).
CONFISSÃO
NO ANTIGO TESTAMENTO
No
Antigo Testamento a confissão voluntária frequentemente se reveste do caráter
de louvor, quando o israelita agradecido, declara o que Deus fez pela redenção
de Israel ou pela sua própria alma. O substantivo hebraico (tôdhâ) pode
significar confissão, agradecimento, louvor ou até mesmo ser usado para
significar um grupo de pessoas que entoam hinos de louvor. O reconhecimento dos
poderosos atos de Deus, nos quais Ele mostra Sua misericórdia ou poder de
livrar está consequentemente ligado com a confissão e forma uma parte integral da
oração e da adoração autêntica (Gn 3.9-11; 1Rs 8.35; 2Cr 6.26; Ne 1.4-11; 9; Jó
33.26-28; Salmos 22, 32, 51, 116; Dn 9). A confissão voluntária pode levar o
fiel a reconsagrar-se a Deus, a entoar-Lhe hinos de louvor, a oferecer-Lhe
sacrifício de regozijo, e infunde o desejo de falar aos outros sobre a
misericórdia de Deus identificando-se com outros na adoração ao Senhor.
CONFISSÃO
NO NOVO TESTAMENTO
No
Novo Testamento, o vocábulo grego traduzido por confessar, tem o sentido
genérico de reconhecer algo, em concordância com outros, empregado para
referir-se à fé em Cristo. Inclui em si os aspectos de agradecimento e louvor
voluntários do Antigo Testamento, além do aspecto novo de submissão espontânea
ao Governo de Deus (Mt 11.25; Rm 15.9; Hb 13.15). No entanto, significa mais do
que simplesmente assentimento mental. Pois subentende uma decisão de
comprometer-se a ser leal a Jesus Cristo como seu Senhor, em resposta à
operação interna do Espírito Santo.
Confessar
a Jesus Cristo, portanto, é reconhecê-Lo como o Messias Ungido de Deus (Mt
16.16; Mc 8.29; Jo 1.41; 9.22), como o Filho de Deus (Mt 8.29; Jo 1.34, 49; 1
Jo 4.2; 2 Jo 7), e também como Senhor ressurreto dentre os mortos (Rm 10.9; 1
Co 12.3; Fp 2.11).
A
confissão de Jesus Cristo está intimamente ligada com a confissão voluntária de
pecado. Pois confessar a Cristo é declarar que Ele morreu por nossos pecados e
buscar em Cristo o perdão gracioso (1 Jo 1.5-10). João Batista conclamava o povo a confessar a
Deus seus pecados, sendo também a confissão um elemento constante tanto no
ministério de nosso Senhor como dos apóstolos (Mt 3.6; 6.12; Lc 5.8; 15.21;
18.13; 19.8; Jo 20.23; Tg 5.16).
CONFISSÃO
E CURA
A
confissão de fé em Jesus deve ser feita abertamente diante de todos os seres
humanos (Mt 10.32; Lc 12.8; 1 Tm 6.12), por palavra proferida (Rm 10.9; Fl
2.11) e mesmo quando for difícil (Mt 10.32-39; Jo 9.22; 12.42). A confissão voluntária de pecado,
semelhantemente, é endereçada primariamente a Deus. No caso de pecado contra o
próximo, deve haver busca de perdão e reconciliação com quem houve a ofensa.
(Mt 18.15-19). Pode haver também confissão pública voluntária pelo poder do
Espírito Santo (At 19.18) e confissão a pessoas maduras para liberação de perdão
e cura (Tg 5.16), contanto que isso sirva sempre para edificação e restauração
(Ef 5.12; Gl 6.1,2). O verdadeiro arrependimento pode requerer o reconhecimento
da culpa perante um irmão (Mt 5.23,24), porém, nenhuma sugestão existe nas
Escrituras que devamos fazer confissão compulsória para quem quer que seja,
particular ou publicamente. Isso seria, a instauração da “santa inquisição”
outrora praticada pela Igreja Católica.
AGENTE
DA CONFISSÃO
Tanto
a confissão sobre Jesus Cristo como a confissão de pecados é obra exclusiva do
Espírito Santo (Jo 16.7-11), assim sendo a marca da verdadeira Igreja, o Corpo
de Cristo (Mt 10.20; 16.16-19; 1 Co 12.3). Por esse motivo precede o batismo
cristão (At 8.37; 10.44-48), prática essa que deu origem a alguns dos primeiros
credos e confissões de fé da Igreja, os quais adquiriram significação ainda
maior com o surgimento do erro e das doutrinas falsas (1 Jo 4.2; 2 Jo 7).
CONFISSÃO
FINAL
O
padrão perfeito de confissão nos é fornecido pelo próprio Senhor Jesus, que fez
boa confissão perante Pôncio Pilatos (1 Tm 6.12,13). Ele confessou que era o
Cristo – Ungido (Mc 14.62), e que é o Rei (Jo 18.36). Sua confissão foi feita
perante os homens, contradizendo o testemunho falso de Seus próprios discípulos
(Mc 14.68), e isso muito Lhe custou, pois teve consequências eternas para toda
a humanidade. A Igreja, em sua confissão, identifica-se, perante muitas
testemunhas, com a boa confissão de Seu Senhor crucificado, mas ressurreto
Salvador. A confissão da Igreja (de fé e de pecado) é um sinal de que a velha
natureza está morta com Cristo e que é possuída por seu Senhor, a Quem a Igreja
tem a missão de servir.
Um
dia Cristo confessará perante o Pai, como Seus todos aqueles que agora O
confessam, mas também negará aqueles que agora O negam (Mt 10.32,33; Lc 12.8; 2
Tm 2.11-13). A confissão com a boca é
feita tendo em vista a salvação eterna (Rm 10.9,10,13; 2 Tm 2.11-13; 2 Co
4.14,14); e nossas confissões atuais são apenas uma amostra da confissão que a
Igreja fará no último dia, quando todo joelho se dobrará e toda língua
confessará que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai (Fp 2.11; Ap
4.11; 5.12; 7.10).
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