CR #38: A FACE OCULTA DO MESTRE

Jesus dos 13 aos 30 anos

By Apóstolo Jota Moura

Que teria acontecido com Jesus Cristo, no período dos 13 aos 30 anos? A história e o Evangelho, pouco ou quase nada registram acerca desse tempo da vida do Nazareno. A igreja, por seu turno, também não se ocupou muito com este fato transcendental e um tanto esquecido, tanto por católicos como por protestantes nestes dois mil anos. Afirmam alguns críticos que Jesus esteve entre os Essênios, aprimorando seus sagrados conhecimentos, para nos trazer e ensinar a sublime doutrina de seu Pai. Por outro lado, os Hindus e outros sustentam de há muito a teoria de que Jesus passou através de escolas iniciativas da índia, Tibete, Egito e Pérsia. Dizem eles, que “certos aspectos do seu ensino revelam influências que devem ser traçadas a um ou outro desses centros iniciáticos, porquanto seus ensinamentos demonstram que Ele não desconhecia a obra de seus mestres e antecessores”. Esse é, portanto, um tema palpitante e atual que despertará, certamente nas mentes curiosas e almas sensíveis aos temas bíblicos – um vivo interesse!

TEORIAS IMPROVÁVEIS

Muitas são as ideias que os homens das mais variadas camadas sócio religiosas apresentam acerca de Jesus Cristo – o Filho de Deus.

Dentre elas, destaquemos algumas das principais, mais como informação do que como fatos. Pois, só os Evangelhos do Novo Testamento são fontes autorizadas sobre Jesus de Nazaré.

Ernesto Renan defende que: “nenhum elemento de cultura helênica chegou até Jesus, quer direta ou indiretamente. Nada conheceu fora do judaísmo; seu espírito conservou aquela franca ingenuidade que sempre enfraquece uma instrução ampla e variada. Mesmo no seio do judaísmo, permaneceu estranho a muitos esforços às vezes paralelos aos seus. Por um lado, o ascetismo dos Essênios ou Terapeutas; por outro lado, nunca teve notícias dos belos ensaios de filosofia religiosa, tentados pela escola judaica de Alexandria, e de que era engenhoso intérprete o seu contemporâneo Fílon. As repetidas semelhanças que se notam entre Ele e Fílon, as máximas sublimes de amor de Deus, caridade, descanso de Deus, que são como um eco entre o Evangelho e os escritos do ilustre pensador alexandrino, provêm das tendências comuns que as necessidades do tempo inspiravam a todos os espíritos elevados. Felizmente para Ele, não conheceu muito a singular escolástica que se ensinava em Jerusalém e que bem cedo devia constituir o Talmude. Se alguns fariseus já a tinham introduzido na Galileia, não os frequentou, e quando, mais tarde, conheceu essa estúpida casuística, não lhe inspirou senão tédio. Pode-se supor, contudo, que os princípios de Hilel lhe não foram desconhecidos. Hilel, 50 anos antes dEle, estabelecera aforismos que tinham muita analogia com os seus. Por sua pobreza, que sofreu com humildade, pela doçura do seu caráter, pela oposição que fazia aos hipócritas e aos sacerdotes, Hilel foi o verdadeiro mestre de Jesus, se é permitido falar de mestre quando se trata de tão alta originalidade. A leitura dos livros do Antigo Testamento fez nEle muito mais impressão… Que Ele não teve notícia do estado do mundo é o que se depreende de cada passo dos seus discursos mais autênticos…”

Para Jacolliot, na vida de Jesus Cristo há fatos da vida de Lezus Cristna, o reformador hindu. E, para Schuré, Jesus só existiu até o batismo no Jordão, quando o espírito do Cristo se incorporou nEle.

O Talmude, capítulo VI, Sanherin, fala de ter sido lapidado um Jesus de Nazaré, réu de magia, de sedução e de corrupção dos seus correligionários. No capítulo seguinte, acha-se mencionado outro Jesus, filho de Pandira e de Maria, bordadeira ou modista, mulher de Studa, ou de uma Studa, mulher de Papus, filho de Jehuda. Esta Maria era de Lydia e viveu perto de 70 anos depois de Maria, mãe do Jesus dos Cristãos. É este Jesus que, diz Raban Maur, os judeus amaldiçoavam em todas as suas orações, como ímpio, filho de um ímpio, o pagão Pandira e da adúltera Maria.

Já para os Budistas, Jesus é Nirmannakaya, isto é, um ser humano muito evoluído, o qual, por uma série de existências perfeitas, atingira o “Nirvana” (estado de ausência total de sofrimento; paz e plenitude a que se chega por uma evasão de si que é a realização da sabedoria).

Há um considerável número de livros tratando do pouco conhecido período da vida de Jesus, que vai dos 13 aos 30 anos. O que sucedeu durante aquele tempo para transformá-lo de um menino inteligente em um mestre cujos ensinos deviam influenciar civilizações? Registros, daquele lapso de tempo, praticamente não existem. Há informações de que em templos da India e mosteiros do Tibete existem documentos que tratam da iniciação de alguém chamado Jesus. Rumores circulam de que há documentos da biblioteca do Vaticano, que muito podem revelar, se não fosse a proibição imposta pelas autoridades papais, que acham não dever torná-los públicos, havendo, portanto, sempre um ar de mistério a cobrir a resposta de uma questão que tem deixado atônito todos os que estudam o desenvolvimento da personalidade de Jesus

Defende o Rev. C. F. Potter que “por séculos os estudantes cristãos da Bíblia se perguntavam onde Jesus estava e o que Ele fez durante os chamados dezoito anos de silêncio. Os maravilhosos e dramáticos manuscritos da grande biblioteca essênia achados em grutas após grutas, perto do Mar Morto, finalmente nos deram a resposta. Que durante aqueles anos perdidos Jesus estudava nessa escola essênia está se tornando cada vez mais aparente. Os letrados estão gradualmente admitindo os surpreendentes paralelos existentes entre as suas doutrinas e vocabulário e as dos essênios e seu Mestre da Justiça, que foi provavelmente crucificado, cerca de um século antes do nascimento de Jesus. Foi o seu título e sua autoridade que Jesus provavelmente sucedeu”.

Veja o leitor, que emaranhado de ideias.

O SILÊNCIO DO EVANGELHO

Como quer que seja, Jesus cresceu em família, gozando de seus prazeres e obedecendo à sua disciplina. Não há razão para supor que Ele fosse um desertor da Pátria ou que tivesse vida de isolamento. Uma das razões básicas porque os evangelistas não relatam praticamente nada destes 18 anos é que não tinham por objetivo descrever vida íntima de Jesus, e sim relatar o seu ministério público. Pode-se, no entanto, ver o suficiente para provar a naturalidade da vida de Jesus, a adaptação do meio em que vivia e no qual se preparava para a sua obra futura, e a beleza do seu caráter. E, deste modo apreciar o desenvolvimento gradual de sua humanidade, até chegar o momento de oferecer-se a seu povo, como o enviado de Deus.

São Lucas resumiu os 18 anos (mais da metade da vida terrestre de Jesus) nas poucas palavras: “Desceu com seus pais a Nazaré e lhes estava, sujeito; e foi crescendo em estatura, em sabedoria e graça perante Deus e os homens” (Lc 2:57,52).

Acham alguns que a hierarquia eclesiástica, depois de Constantino Magno, tenha suprimido a parte do Evangelho que se refere há esse tempo, a fim de abrir caminho para a consolidação do seu domínio. Hipótese improvável.

Uma coisa estranha é que os contemporâneos de Jesus nada sabiam da suposta ausência dEle. Quando, aos 30 anos, Ele aparece em público, perguntam cheios de surpresa: “Donde lhe vem essa sabedoria? pois não é Ele o filho do carpinteiro? não está entre nós a sua mãe, e não conhecemos nós seus irmãos e suas irmãs?” (Mt 13: 54-56).

Se Jesus tivesse estado ausente tantos anos, não seria óbvio que seus contemporâneos mencionassem o fato? e que procurassem relacionar a sua surpreendente sabedoria espiritual com essa longa ausência e possível permanência em outras partes do globo? Nada disto, porém, acontece. Tacitamente, os nazarenos concluem que Jesus não se ausentou.

De resto, que necessidade tinha Ele de se sentar aos pés dos outros mestres humanos, Ele que Já aos 12 anos possuía uma sabedoria espiritual maior que os teólogos da sinagoga e do templo, encanecidos nos estudos das revelações de Deus?

Humberto Rohden diz: “não é provável que Jesus se tenha ausentado fisicamente. A sua frequente ausência espiritual, todavia, é sumamente provável. Mais tarde, durante a sua vida, como refere o Evangelho repetidas vezes, se retirava Jesus para o cume dos montes ou para a solidão do ermo, a fim de estar a sós com o Pai dos céus, por vezes, noites inteiras. Não terá o jovem feito o mesmo, em Nazaré? Não terá Ele, após os labores diários, na pequena carpintaria, demandado à convidativa solidão das montanhas que circundam Nazaré de três lados, abismando-se, profunda e diuturnamente, no grandioso mundo do Pai dos céus ou do Reino de Deus, que forma o centro dos seus ensinamentos?”

Ninguém pode, com tamanho amor e brilho, falar dessa realidade invisível sem que a tenha experimentado, longa e intensamente, em sua própria alma.

Nem a sabedoria filosófica de Hermes Trismegistus, do Egito, nem a espiritualidade mística dos Vedas, ou da Bhagavad-Gita, da India, parecem ter influenciado o espírito de Jesus; a sua grande sabedoria divina lhe vinha da fonte suprema, do seu contato imediato com o Pai dos céus… Não havia, para o jovem carpinteiro, mestre humano no mundo – havia, porém, o Mestre dos Mestres, para além de todos os mundos conhecidos. E é certo que Jesus tenha recebido a sua sabedoria diretamente da sua experiência pessoal com Deus.

Certo crítico, diz o Prof. J. B. Stella procurou negar a originalidade de Jesus na esfera dos seus ensinos, fazendo análise dos elementos que entraram na doutrina moral do Nazareno e demonstrando que eles se encontram nas mais antigas fontes. Em parte, isso é verdade. Porém, pergunta Lanni: Miguel Ângelo não é porventura um criador, porque a arte de esculpir existia antes dele? Marconi não é o inventor do telégrafo sem fio porque Herz forneceu-lhe experiências das ondas etéreas? Ainda que todos os princípios morais contidos nos Evangelhos se encontrem nos ensinos dos Rabinos, na filosofia grega ou em outro sistema da antiguidade, e mesmo que esses princípios tenham sido estéreis, porventura o Cristianismo não realizou a maior revolução moral da história, renovando a face do mundo? O gênio moral de Cristo e o seu caráter são insuperáveis.

O MOÇO DE NAZARÉ

Por Lucas capítulo 2, versículos 40 a 52, torna-se claro que a vida de Jesus, desde a meninice, juventude e até a idade adulta foi não só normal, mas também perfeita. Em sua vida; o ideal de Deus para os homens foi cumprido em cada estágio.

Embora vivesse entre um povo que várias vezes, e ainda aí só por desdém, é mencionado pelos antigos clássicos; povo esse que, no tempo em que Jesus viveu, se achava sob o jugo de um estrangeiro opressor. Criou-se Ele numa remota e conquistada província do Império Romano, no mais obscuro dos distritos da Palestina, numa localidade do interior de proverbial insignificância. O dia de sua juventude passou-os em pobreza e trabalho manual, na obscuridade de uma oficina de carpinteiro; longe, bem longe de universidades, academias, bibliotecas; afastado da gente letrada e do escol social da época. Não teve oportunidades outras além do cuidado de seus pais, as quotidianas maravilhas da natureza, as Escrituras do Velho Testamento, os ofícios religiosos nas sinagogas aos sábados (Lc 4:16), as festividades anuais em Jerusalém (Lc 2:42), e a íntima comunhão de sua alma com Deus.

Daí a pergunta de Natanael: “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré”? (Jo 1:46). Daí a natural surpresa dos judeus, conhecedores que eram de suas relações humanas e seus precedentes: “Como sabe estas letras, não as tendo aprendido? “(Jo 7:15). – perguntaram ao ouvi-Lo ensinando. Noutra ocasião observaram: “Donde veio a este a sabedoria, e estas maravilhas?” (Mt 13:54-56; Mc 6:3). José, provavelmente tenha falecido cedo e Jesus, como arrimo do lar, tenha trabalhado arduamente como carpinteiro, a fim de prover o necessário para Maria e seus irmãos mais novos. E é claro que Ele dedicava muito tempo à meditação sobre as Escrituras e à oração.

À parte, os poucos detalhes dados em relação à adolescência de Jesus, e às inferências que podem ser tiradas dos Evangelhos a respeito de sua vida, estava sempre está em completa concordância com a vontade de Deus (Lc. 2:52), e desde tenra idade (Lc. 2:49) tinha a consciência que era Filho de Deus num sentido todo especial.

A vida humilde e quase ignota de Jesus em Nazaré resume a eterna resposta àquelas perguntas básicas da vida e contém a solução dos problemas do homem. Nenhum homem tem o direito de exercer o poder, se primeiramente não aprender a obedecer, assim como homem algum tem o direito de possuir riqueza se primeiramente não aprendeu o espírito de pobreza. Tal é a dupla lição que se contém nos dois simples fatos que conhecemos acerca dos anos da vida de nosso Senhor em Nazaré: o primeiro, que era submisso e obediente aos seus pais; e o segundo, que era um humilde carpinteiro de aldeia.

“A oficina do carpinteiro de Nazaré não representa, por conseguinte, a banalidade demagógica acerca do encanto da pobreza e da santidade da servidão: é, pelo contrário, incentivo para que os ricos saibam ser pobres em espírito e para que os poderosos saibam ser servos do próximo. E em verdade o Senhor foi o único Homem que jamais viveu ou viverão neste triste planeta, de Quem os ricos e os pobres, os amos e os criados, os governantes e os súditos, os poderosos e os humildes, poderão dizer unanimemente: É um de nós!”

TESTEMUNHO INSUSPEITO

Numa compilação singular, Russell V. De Long, decanta a Personalidade – Milagre de Jesus.

Vejamo-la finalmente:

Não era general, e contudo, tornou–se o conquistador do mundo – não pela brutalidade da força militar, mas pela amplitude do seu poderoso amor. Pouco Ele viajou, confinando suas atividades à Palestina, país com apenas 90 quilômetros de largura por uns 200 de comprimento, aproximadamente. Não dispunha dos meios modernos de propaganda intensiva. Em seu tempo não havia estradas de ferro, nem transatlânticos, nem aviões, nem jornais, nem revistas, nem impressoras, nem rádios, nem sistema de televisão.

Jesus não possuía nome influente, nem riqueza, nem posição. Viveu e exerceu suas atividades entre o povo comum. Ao nascer, tomou emprestada para Ele uma manjedoura, e quando morreu, foi colocado num túmulo emprestado. A herança que deixou foi uma única túnica sem costura.

Não era médico, mas curou os doentes, deu vista aos cegos, audição aos surdos, purificou os leprosos e ressuscitou os mortos.

Não era advogado, mas conhecia a Lei, interpretava-a, e a aplicava às relações que deveriam imperar entre os homens. Ele próprio tornou-se a fonte da retidão e da justiça, e seus princípios se tornam cada vez mais enraizados nos corações e consciências dos homens.

Não foi escritor, não escreveu livros, nem compôs poemas; não compilou documentos, nem editou jornais, nem fez contribuições para periódicos. A única sentença que escreveu foi uma linha sobre a areia que desapareceu no mesmo dia. Dela não sobrou uma letra sequer. Jamais usou caneta-tinteiro ou máquina de escrever. Não temos uma linha, uma palavra ou sílaba de sua mão. E, contudo – tem-se escrito mais livros sobre Ele e suas palavras do que sobre qualquer outro homem.

Ele tem influído sobre maior número de vidas do que todos os escritores de todas as eras. A história, de sua vida já foi traduzida em mais de mil e cem línguas, e foi lida por milhões sem conta, e todos os anos é best-seller!

Não era orador, e contudo, ninguém jamais falou como este homem; seus discursos se tornaram o terno de milhões de sermões. Suas palavras são simples e claras. Elas são joias literárias. Destaca-se Ele como o Vidente incomparável de toda a literatura. Shakespeare, Newton e Emerson curvam-se diante de sua presença, reconhecendo nEle um superior.

Não era poeta; não obstante, inspirou milhares de poetas nas suas mais sublimes expressões.

Não foi músico; entretanto, inspirou Mozart, Schubert, Beethoven, Mendelssohn, Hayden, Handel e outros sem conta.

Não era artista, nem escultor, nem pintor. Jamais empunhou um cinzel. Desconhecia a paleta e a tela; contudo, foi a inspiração de Rafael, de Miguel Ângelo, de Hofmann, e de inúmeros outros.

Não era arquiteto, nem empreiteiro, nem construtor. Era apenas um carpinteiro galileu – fazia arados de madeira e jugos para bois; mas inspirou a arquitetura mais nobre, mais maravilhosa que jamais se conheceu. Ele próprio especializou-se na construção de caracteres – na criação de homens, obras-primas humanas. Tomou Pedro e fez dele um santo. Tomou Saulo e fez dele Paulo.

Não era estadista. Jamais desempenhou nem aspirou a um cargo oficial, mas na verdade fundou um Reino Eterno.

Jesus Cristo é a mais alta Personalidade, incorporando os mais altos ideais de todas as profissões e vocações.

Nele os homens de todas as profissões, de todas as vocações, de todas as raças, de todas as posições, de todas as classes encontram o melhor. Aí está porque Jesus apela a todos: pois é o Caminho, a Verdade e a Vida.

Nele o homem encontra a resposta para os seus problemas, a satisfação para os seus desejos, a fruição de suas lutas, o gozo de seus sonhos, o fim de suas aspirações, a satisfação de seus apetites, e a harmonia de sua alma. Amém!


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