CR #063: ANDE NO CAMINHO DO REINO
Ap.
Jota Moura
“E
este evangelho do reino será pregado no mundo inteiro, em testemunho a todas as
nações, e então virá o fim.” (Mt. 24.14)
Todos
nós fomos formados num contexto religioso em que a palavra Igreja é muito mais
familiar do que a palavra Reino e, no geral não há boa compreensão por parte
dos crentes sobre o que é o Reino de Deus e o que é a Igreja. Vamos tratar do
assunto na forma de perguntas e respostas, para facilitar a exposição e a própria compreensão do tema. Primeiramente
abordaremos a visão do Reino para depois então contrastar com a ideia de Igreja e a
consequente aplicação prática do assunto.
1. QUANDO COMEÇOU O REINO DE DEUS?
1)
Desde que Deus criou o universo - Ele é Rei sobre tudo e sobre todos. Na narrativa da
criação, em Gênesis 1 e 2, fica claro que Deus criou todas as coisas, inclusive
o homem para submeter ao Seu domínio.
2) Ao criar o homem deu-lhe três
mandatos - que
ele teria de obedecer para ser eternamente feliz: um mandato cultural (Gn.
1:26; 2:15 e 20); um mandato social (1:28; 2:18, 21-23 e um mandato espiritual
(2:16-17).
3) Deus dominaria sobre o homem - e o homem dominaria sobre a
criação (2:28) como um vice gerente de Deus na terra e tudo funcionava em
perfeita harmonia. Deus como Rei de toda criação provia de alimento o homem e os
animais (Gn. 1:29-30). O Reino funcionava em perfeita ordem.
2. QUE ACONTECEU APÓS A QUEDA?
1)
Após a desobediência dos nossos primeiros pais - e o consequente pecado, foi
quebrada a harmonia desse Reino. O que vemos daqui em diante é uma raça humana
prejudicada cultural, social e espiritualmente.
2)
A palavra “queda” define esta nova situação - Deus ainda é o Rei como sempre será Rei, mas a
raça humana, ou seja, os servos do reino estão afetados pelo pecado, foram
atingidos pela queda e, portanto, estão sem condições de cumprir, pelo menos de
forma correta, os mandatos estabelecidos no início.
3) Atitudes tomadas por Deus
diante da queda -
Em Gênesis 3:15, em cima das ruínas e desmoronamento do Reino, Deus faz uma promessa de
restauração, prometendo
um Restaurador (Gn. 3.15). Aquele que viria esmagar a cabeça de Satanás, autor
do pecado e iniciador de um império de trevas, pecado e desobediência. Um dia
todo este domínio pecaminoso estará sujeito ao Restaurador, ou seja: debaixo
dos pés do Senhor Jesus Cristo. A partir da promessa, começaram as providências para a chegada desse reino
restaurado.
3. QUAIS COISAS CRISTO VEIO
RESTAURAR NA TERRA?
1) Jesus veio não só para
restaurar o homem
- mas toda a criação, toda a terra que foi amaldiçoada com o pecado (Gn.
3:17-18); os animais que sofrem as consequências do pecado (Os. 4:3). Paulo
disse em Romanos 8:22 que “toda a criação geme”, aguardando a restauração (Cl.
1.13).
2) Paulo fala que Cristo veio para
reconciliar - com
Ele mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos
céus (Cl 1:20). No livro de Apocalipse, que retrata o fim da obra restauradora
de Cristo, está expresso: “eis que faço novas todas as coisas” (Ap. 21:5).
3) Paulo fala ainda das coisas do
fim - “depois
virá o fim, quando tiver entregado o Reino a Deus, ao Pai e quando houver
aniquilado todo império, toda potestade e força (do mal)” 1Co. 15.24).
Portanto, o Reino dos céus, que é o Reino de Jesus, não compreende só pessoas,
mas todas as coisas. Ele é o Restaurador de tudo.
4. POR QUE OS EVANGELHOS FALAM
TANTO EM REINO?
1) Os Evangelhos usam mais de cem
vezes a palavra “reino” - isso porque eles registram a chegada de Cristo em cumprimento das
promessas; e a Sua chegada aqui foi descrita por João Batista e pelo próprio Cristo
como a chegada do Reino de Deus (Mt. 3:2; 4:17).
2) Com a vinda de Cristo e Sua
obra - e o
ministério dos apóstolos, inaugurou-se a implementação do Reino que crescerá
até à consumação dos séculos. Jesus ilustrou o crescimento do reino com as
diversas parábolas, quando sempre ensinava: “O Reino dos céus (ou de Deus) é semelhante...” (Mt. 13). Na oração Dominical Ele nos ensinou a orar
pedindo entre outras coisas: “venha o teu reino”. No Sermão do Monte, Ele ensinou que a
nossa preocupação deve ser com o reino de Deus, quando disse: “buscai, pois, em
primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão
acrescentadas” (Mt. 6.33). Jesus falou do Reino de modo abrangente, mostrando
que Deus cuida de homens, animais e plantas.
3) O Evangelho do Reino nos foi
deixado a proclamar a todos - (Mt. 4: 23; 4:35; 24:14); esta mensagem restauradora é a “Palavra do Reino” (Mt. 13:19). Os que são de Cristo, os quais foram alcançados pelo Evangelho do reino, são chamados “filhos do reino” (Mt. 13). O
importante para o pecador é que ele entre no Reino de Deus, pela porta da regeneração, do novo nascimento: “Se alguém não nascer de novo não pode entrar no reino de Deus” (Jo. 3:3,5). A ênfase dos Evangelhos é que preguemos o “Evangelho do Reino”, para a
entrada de pecadores arrependidos e regenerados no “Reino de Deus”.
5. POR QUE OS EVANGELHOS FALAM TÃO
POUCO DE IGREJA?
1) Os quatro Evangelhos só se
referem à Igreja duas vezes - (Mt. 16:18 e 18:17). A primeira referência é à promessa de Jesus de edificar a
Igreja, no futuro: “Edificarei a minha Igreja”. O Reino estava presente, mas a
Igreja ainda não. Após a morte e ressurreição de Cristo e a vinda do Espírito Santo, o
Reino haveria de crescer muito. Jesus disse a Pedro que lhe daria as chaves do
Reino: “Eu te darei
as chaves do Reino dos céus...” (Mt. 16:19). E foi no dia de pentecostes (Atos 2.14) que Pedro usou
essas chaves, e quase três mil pessoas entraram para o Reino, através do
arrependimento e da Fé em Cristo.
2) No Livro de Atos dos Apóstolos
nasce a Igreja em Pentecostes - Pedro usando as chaves pela segunda vez, através da
pregação da palavra, em Atos 3, por ocasião da cura do coxo, diz-nos Lucas que
o número dos discípulos chegou a quase cinco mil (At 4:4). Até então, ainda não
havia aparecido a palavra “Igreja” em Atos. Ela vai aparecer pela primeira vez
em Atos 5:11, por ocasião da disciplina aplicada sobre Ananias e Safira. A
partir daí, até Apocalipse 3, é citada a palavra por mais de cem vezes. No
contexto do crescimento do Reino, pela entrada de milhares e milhares de
pessoas, é que surgiu
a Igreja ou igrejas.
3) Na maioria das vezes a palavra
“Igreja” aparece no singular - referindo-se a um grupo de crentes em determinada
cidade. Quando aparece no plural “igrejas”, refere-se a vários grupos de crentes em certas
regiões. Neste
contexto, Igreja é a forma visível do Reino; é a sua estrutura organizacional e administrativa. As igrejas são
grupos organizados de servos do Rei a serviço do Reino. Ainda hoje chamamos de
“Igreja” um determinado número de crentes estruturados sobre certos princípios. Um grupo que tenha liderança bíblica para a sua administração, conforme Efésios 4.11. Neste
sentido as igrejas podem ser chamadas de agentes ou embaixadas do Reino de Deus
na terra. Quando servimos na Igreja, servimos ao Reino e para tanto nos
organizamos em Igreja.
6. QUAL É NOSSA MISSÃO NO REINO
ATRAVÉS DA IGREJA?
1) Somos chamados a viver e servir
na missão do Reino onde fomos plantados - Em Atos 19: 8; 20:25; 28:23 e 31 Lucas diz que Paulo
“pregava o Reino”. Também é interessante que nas Escrituras somos chamados de “servos”; isto porque o Reino tem “servos”; e a Igreja tem “membros”.
2) No contexto da volta de Cristo
e do futuro eterno do povo de Deus - não aparece a palavra Igreja. Em Apocalipse a palavra “Igreja” só aparece no capítulo 3 e em 22.16, falando das
sete igrejas da Ásia Menor. Na eternidade só haverá o Reino de Deus e de seu Filho
Jesus Cristo (Ap. 11:15). Como Jesus dirá na Sua vinda: “vinde benditos de meu Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mt. 25:34).
3) O Reino de Deus foi entregue
pelo Pai a Cristo
- Ele é o Rei e será Rei para todo sempre. Todo poder foi dado a Ele nos céus e
na terra (Mt 28:18 e Dn. 7:14); Ele é rei sobre os crentes, sobre os Seus
servos que entraram em Seu Reino e fazem a Sua vontade andando no caminho do
Reino, exercerá juízo e condenará todos os ímpios. Um dia Ele entregará novamente o Reino restaurado ao
Pai (1Co. 15:24 e Ap. 11:15).
7. QUAL A IMPORTÂNCIA DE ANDARMOS
NA VISÃO DO REINO?
1) Difundir esta ideia é muito
importante - pois
uma grande maioria dos crentes só se preocupa em atender as exigências para se
manterem como membros de uma Igreja e nada fazem a favor do Reino. Outros se
esforçam muito
quando o esforço visa fortalecer à estrutura local de sua Igreja e pouco ou quase nada fazem
a favor do Reino. Devemos nos lembrar que a Igreja não é um fim em si mesma; não trabalhamos, em primeira mão para o crescimento da Igreja e
sim para o crescimento do Reino. Embora o crescimento seja recíproco porque o Reino crescendo,
cresce também a Igreja
e sua estrutura. Uma Igreja deve cuidar bem de sua estrutura e de sua
organização, visando melhor trabalhar a favor do Reino dos céus.
2) A visão do Reino tira-nos dos
limites das quatro paredes - de nossos templos, eleva os nossos olhos além da estrutura orgânica de nossas igrejas para uma
obra muito mais ampla e para desafios muito maiores. Devemos nos lembrar que
antes de sermos membros da Igreja, somos servos do reino; servir a Igreja e não
servir o Reino é estar fora dos propósitos do Rei Jesus.
3)
Não pode haver bons membros da Igreja sendo maus servos do Reino - Se formos bons servos do Reino,
certamente seremos também bons membros da Igreja. Quantos crentes que desagradam da Igreja e
deixam de trabalhar e de contribuir; estes são maus membros e maus servos. Sejamos
bons membros e bons servos. Assim poderemos orar: “Venha o teu Reino”; assim
teremos motivação para “buscar primeiro o Reino de Deus” antes de qualquer
outra preocupação. Irmãos, “vamos nós trabalhar, somos servos do Reino de Deus”. Amém!
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