CR #045: REEDUCANDO AS NOVAS GERAÇÕES
Ap. Jota Moura
Introdução
“A
família é o lugar onde se criam doenças psíquicas e psicossomáticas, e ela é a
primeira rede de apoio que preserva de adoecer em consequência de uma crise”. É
fato que cada geração tem a sua maneira de agir, sentir, pensar e decidir.
Entende-se
por “geração” como: o conjunto dos indivíduos nascidos na mesma época; o espaço
de tempo (aproximadamente 25 anos) que vai de uma geração a outra (Aurélio).
Em
uma família, várias gerações estão presentes: avós, pais, filhos e netos. Isso
significa a presença de variados pensamentos, conceitos e valores. O que pode
produzir competição, conflitos e inveja. Então perguntamos: não é justamente
este o sentimento e a atitude que as pessoas mais querem esconder das outras?
Sendo assim, o caminho que escolhemos para trabalhar este tema é duplo: os
valores na família e como resolver conflitos entre gerações. Ainda mostrar que
uma convivência pacífica e agradável é possível entre diferentes gerações,
quando refletimos sobre os valores dos outros e seguimos princípios sólidos
para resolver os conflitos. (Leia Tiago 3.13-18).
I.
VALORES QUE FUNDAM UMA FAMÍLIA
1)
O que são valores
- Valor é algo desejável ou útil. As pessoas valorizam o que desejam,
necessitam ou consideram interessante. Por causa disso, temos as nossas
preferências, escolhas. Escolher supõe que preferimos o mais valioso ao menos
valioso.
2)
Objetos valiosos e atos humanos valiosos - árvore, uma porção de terra, uma cadeira, um carro, um
computador, uma obra de arte, um livro, um tapete, um móvel de casa, uma roupa,
um animal de estimação, etc. Atos humanos valiosos: ato moral, político,
jurídico, cívico, econômico etc.
3)
Os valores, de modo geral, podem ser: Positivos – Se alinham com os valores bíblicos
encarnados pelo cristão convertido. Negativos – A desonestidade, a violência, o
preconceito, a mentira, etc. Neutros – “Qual pé devo calçar primeiro, o direito
ou o esquerdo?”
4)
Principais tipos de valores: Extrínseco ou instrumental – Algo que tem valor por causa dos
efeitos que produz, e não por causa daquilo que é em si mesmo. Ex.: uma casa
confortável. Intrínseco ou final – Algo que é valioso em si mesmo. Ex.: a
bondade, a lealdade, a justiça, o amor, a verdade, etc.
De
que maneira os valores estão presentes nas famílias e nas diferentes gerações
que formam as famílias? Todos valorizam exatamente as mesmas coisas? Por que?
2.
COMO ACONTECEM OS CONFLITOS DE GERAÇÕES
De
acordo com Eva Lakatos (Sociologia Geral, Ed. Atlas), existe um processo
sociológico de mudança cultural comum a todas as culturas em todas as gerações.
1)
Por Inovação -
Alguém inventa algo, mostra seus valores e suas vantagens. Normalmente é algo
que vem para tomar o lugar de outra coisa. Ex.: Máquina de escrever x
computador.
2)
Por Aceitação Social
- Acontece quando a sociedade aceita o que foi inventado. É também a
assimilação de um comportamento novo. Ex.: Mulher ser árbitro de futebol.
3)
Por Eliminação Seletiva - Acontece quando a sociedade vai deixando hábitos antigos para
contrair novos; os valores tradicionais vão caindo em desuso até desaparecer.
Ex.: Liberação sexual para todas as idades!
4)
Por Integração Cultural - É o último e definitivo passo. Os novos valores e comportamentos
vão se ajustando cada vez mais, até serem parte integral da família e
sociedade. Ex.: Aceitação da homossexualidade como algo natural.
5)
Por Convicção religiosa - Isso que acabamos de abordar é muito importante para entendermos a
razão das mudanças culturais e dos valores na família (Jo 17. 11-18). A igreja
do Senhor Jesus Cristo sempre viveu em uma sociedade, nunca fora dela (estamos
em Cristo, mas vivemos também em Éfeso – Ef 1.1). Agora você entende a causa de
muitos conflitos entre gerações. Entende por que o avô quer que o neto se
comporte da mesma maneira que ele, quando era criança?
Isso
não quer dizer que todas as mudanças na sociedade e na família sejam benéficas.
Aliás, em se tratando de mundo, a maioria delas é degradação e não evolução.
Colocamos o que segue apenas para “abrir a mente”.
3.
VERDADEIROS VALORES DO REINO DE DEUS
O
que é bíblico nenhuma cultura pode derrubar ou superar. A lista abaixo, que não
é exaustiva, mas abrangente, tem por objetivo mostrar valores que, não
importando a geração, são absolutos e permanentes; válidos para qualquer época.
1)
O principal mandamento (Mc 12.28-31).
2)
Ser uma nova criatura em Cristo Jesus (Jo 3.3-5).
3)
Salvar a alma ou ter a vida eterna (Mc 8.36).
4)
Viver em paz (Pv 17.1).
5)
Amar e ser amado (1Co 13.1-3).
6)
Autenticidade (Mt 7.3).
7)
Solidariedade, altruísmo e utilidade (Lc 10.30-37).
4.
RESOLVENDO CONFLITOS ENTRE GERAÇÕES
Para
a mãe, que foi educada de forma a não poder sair sozinha com o namorado (a irmã
ou alguém tinha de ir junto), a não poder beijar em público, fica difícil
entender que sua filha possa ir a uma festa e chegar tarde da noite.
Um
pai que foi educado aprendendo que “lugar de mulher é dentro de casa” também
reluta em liberar a filha para trabalhar. Tudo pode se complicar quando o
antigo e o novo acabam coexistindo dentro da mesma casa. Os filhos querem viver
da forma dominante de sua época e acompanhar os valores atuais; os pais
geralmente acabam tentando se modificar para compreender a forma de vida da
nova geração, sem abrir mão dos valores que eles trouxeram do lar no qual foram
criados. E quando o avô ou avó moram em casa, as diferenças de gerações são
ainda mais evidentes. Evidentemente não temos uma “receita” pronta. Mas temos
princípios que podem ser aplicados nos relacionamentos interpessoais, quando há
atritos devido às diferenças de gerações.
1)
Comunique o conflito
- A Bíblia não recomenda o silêncio quando há problemas ou pecados. “Se teu
irmão pecar contra ti, vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir,
ganhaste a teu irmão” (Mt 18.15). O verbo “arguir” pode ser traduzido como
“trazer à luz”, “expor”, “mostrar a falta ou erro”, “mostrar a razão dos
fatos”, “convencer alguém de sua falta ou erro”. “Vai argui-lo” implica uma atitude,
um movimento em direção ao ofensor, ao que está nos ferindo. “Se ele te ouvir,
ganhaste a teu irmão.” O verbo “ganhar” quer dizer “poupar alguém de um dano,
perda ou prejuízo”. O que acontece é que muitas vezes falamos do conflito a
todos, menos à pessoa que realmente precisa saber. No ensino do nosso Mestre,
deve-se falar: “vai argui-lo”!
2)
Faça bom uso das “diferenças” - Se você puder entender a posição do outro apenas como
uma posição diferente – nem melhor nem pior – a vida familiar ficará mais fácil
e também mais rica e simples a convivência. Há um provérbio indiano que diz:
“Não critique um homem antes de andar um quilômetro com seus sapatos”. Tente
vivenciar o conflito sob o ponto de vista da outra pessoa. Dessa maneira, os
avós ou sogros podem se transformar em valiosa fonte de aprendizagem, pois
carregam uma bagagem de vida com ricas contribuições a dar aos demais.
Portanto, se as diversas opiniões sobre uma mesma questão são usadas de modo a
enriquecer a percepção pessoal e a percepção sobre os outros, o jovem pode
abandonar suas posições inflexíveis para assumir um posicionamento que
compreenda a opinião dos pais.
3)
Faça diferença entre o essencial e o secundário - A palavra “secundário” vem do
latim “secundu” que literalmente é “segundo”. Portanto, “secundário” é aquilo
que é de menor importância em relação a outrem ou a outra coisa; algo de pouco
valor, insignificante, inferior (Aurélio). Daí a necessidade de se identificar
e discernir os conflitos, porque, muitas vezes, a causa maior não passa de
interesse pessoal ou coisa de pouca importância. Você já ouviu falar do casal
que brigava constantemente porque ao colocar o papel higiênico no papeleiro do
banheiro a mulher gostava que o papel saísse por baixo, enquanto o marido
insistia que deveria sair por cima? Incrível!
Há
muitas coisas que são importantes, mas não são fundamentais. E muitos conflitos
podem ser evitados com bom senso e tolerância, na medida que identificamos o
que é essencial e o que é secundário; ou o que é inegociável e o que é
tolerável. Quantas vezes brigamos por algo que daqui a pouco tempo não terá
valor algum para nós mesmos!
5.
A BÍBLIA FALA SOBRE A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA
A
Bíblia traz instruções sobre a convivência com os familiares, a alegria da vida
em família e sua importância na formação do nosso caráter. É por meio da
família que aprendemos os primeiros valores que nos seguirão por toda a vida.
São as noções de como nos relacionaremos em sociedade, a percepção do mundo em
que vivemos e a instrução pelo caminho em que possivelmente seguiremos.
Sagrada, a família é o nosso porto seguro, onde encontramos o apoio necessário
para os momentos de dificuldade e alegria da partilha diária.
Por
isso, trazemos abaixo algumas frases da Bíblia sobre a importância da família:
1)
Relacionamento do casal - Desfrute a vida com a mulher a quem você ama, todos os dias desta
vida que Deus dá a você debaixo do sol; Pois essa é a sua recompensa na vida,
pelo seu árduo trabalho debaixo do sol. (Eclesiastes 9:9)
2)
Honra dos filhos aos pais - Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra
que o Senhor, o teu Deus, te dá. (Êxodo 20:12)
3)
Educação dos pais aos filhos - Instrua a criança segundo os objetivos que você tem
para ela, e mesmo com o passar dos anos não se desviará deles. (Provérbios
22:6)
4)
Fruto da boa pedagogia familiar - Ouça, meu filho, a instrução de seu pai e não despreze
o ensino de sua mãe. Eles serão um enfeite para a sua cabeça, um adorno para o
seu pescoço. (Provérbios 1:8-9)
5)
Valorização entre gerações - Os filhos dos filhos são uma coroa para os idosos, e os pais são o
orgulho dos seus filhos. (Provérbios 17:6)
6)
Filhos como herança do Senhor - Os filhos são herança do Senhor, uma recompensa que ele
dá. Como flechas nas mãos do guerreiro são os filhos nascidos na juventude.
Como é feliz o homem que tem a sua aljava cheia deles! (Salmos 127:3-5)
7)
Testemunhando a fé aos filhos - Os vivos, somente os vivos, te louvam Senhor, como hoje
estou fazendo; os pais contam a tua fidelidade a seus filhos. (Isaías 38:19)
8)
Transmissão das obras de Deus às gerações - Não os esconderemos dos nossos
filhos; contaremos à próxima geração os louváveis feitos do Senhor, o seu poder
e as maravilhas que fez. (Salmos 78:4)
9)
Quando honrar é obedecer - Filhos obedeçam aos seus pais no Senhor, pois isso é justo. Honra
teu pai e tua mãe, este é o primeiro mandamento com promessa: para que tudo te
corra bem e tenhas longa vida sobre a terra. (Efésios 6:1-3)
10)
A prática da fé cristã começa na família - Mas, se uma viúva tem filhos ou netos, que estes
aprendam primeiramente a pôr a sua fé cristã em prática, cuidando de sua
própria família e retribuindo o bem recebido de seus pais e avós, pois isso
agrada a Deus. (I Timóteo 5:4)
Conclusão
A
família que deseja que todos sejam réplicas uns dos outros e não assimila as
diferenças acaba obstruindo o crescimento de todos. Maria Luiza Dias em seu
livro Vivendo em Família (Ed. Moderna), acrescenta: Na infância, tudo o que vem
dos pais e avós geralmente parece correto, mesmo que a criança resista a
obedecer – os pais são vistos como aqueles que já conhecem mais sobre o mundo.
Na
adolescência, a tendência é de oposição, de polarização com os pais. O mundo
bom parece ter princípios opostos. Na vida adulta, espera-se ter encontrado uma
posição mais madura, onde o indivíduo tenha sido capaz não só de “peneirar” as
experiências, reter consigo o que avaliou como uma boa contribuição da família,
como também de elaborar algumas mudanças, dentro do que considera ser a maneira
pessoal mais adequada para as necessidades atuais.
Sendo
assim, a família sadia é aquela que doou a seus membros uma provisão para a
vida e, ao mesmo tempo, permitiu a sua diferenciação; que permitiu que cada um
vivesse a sua individualidade sem ser individualista, sem abrir mão dos valores
bíblicos (que são eternos) e sem esquecer de ensinar a fazer diferença entre o
essencial e o secundário. Ao contrário do que se pensa, uma geração deve
aprender com outra, havendo assim, uma integração de gerações.
Comentários
Postar um comentário